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    Apenas um desenho...
    Até que ponto um simples desenho é inocente? Existem coisas macabras no mundo, e este vídeo certamente é uma dessas coisas. Confira! Leia Mais...

Feliz Natal

Feliz Natal - Capítulo Final


A criatura foi em direção aos policiais. Com uma faca na mão, chegou em frente a Inácio e pegou sua mão amarrada, libertando-a. Inácio tentou reagir, porém era fraco comparado ao monstro. Passou a lâmina de lado a lado da mão de Inácio, fazendo com que sangue jorrasse. Em sua outra mão estava uma tigela de madeira esculpida, com aspecto antigo e antiquado. O sangue caiu na tigela, suficiente para afundar a ponta de um dedo.

-Aaaaahhhh, maldito!

Num golpe rápido, a ponta do seu dedo foi amputada como se fosse manteiga, também caindo na tigela da criatura. 

-Filho da puta do caralho! - Gritava Inácio. - Aaaaaaaaaaah!

-Dói, né? Vai doer mais! Passamos séculos sem oferendas, graças àquela invasão religiosa maldita! 

Sangue escorria sem parar da mão direita de Inácio. Halthar deixou a tigela num móvel e, com a faca, se dirigiu a Fernandes. Olhou em seus olhos profundamente e libertou sua mão esquerda. Enfiou a ponta da faca embaixo da unha do polegar de Fernandes e cortou a carne embaixo dela. 

-Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah!

Prensou a unha entre a faça e sua garra e a torceu para cima, puxando-a e arrancando-a, jogando ela na tigela. A dor foi excruciante. 

Então, uma voz conhecida se fez ouvir.

-Halthar, querido, voltei! - Dona Cleide, aparecendo. 

-Até que enfim, minha dama. Demorou muito hein, quase tive que terminar o ritual sozinho. 

-Jamais deixaria você se banquetear sozinho! Depois de tanto tempo sem oferendas, qualquer jantar é bem-vindo.

-D-dona Cleide... você... ele... - Disse Inácio, pálido como leite.

-Os ossos? Meu marido teve mais utilidade servindo de "quebra-ossos" do que teve em vida como mecânico. Haha!

-Tenho muita sorte em ter achado você novamente, Artha. 

-Também tenho muita sorte por ter você, Halthar. - Disse Cleide. - Mas veja, você quase terminou o ritual. Agora deixe comigo, você não está forte o bastante.

-Mas você...

-Anda, sente ali na cadeira e espere eu terminar. Descanse um pouco e deixe comigo, meu precioso. 

Halthar sentou-se na cadeira da cozinha, fechou os três olhos macabros e seu corpo se curvou ligeiramente. A criatura estava como que dormindo profundamente.

Nesse instante, Cleide tirou uma corda da gaveta de um móvel próximo a Halthar. Fez menção que ia amarrá-lo, porém a criatura abriu os olhos.

-Oh querido, não queria te acordar, perdão. Quero amarrá-los mais para garantir que não fujam.

-Tem certeza que não quer ajuda, Artha? Se você...

-Não se preocupe! Durma, meu amor, durma...

Cleide começou a entoar uma canção estranha em outra língua, e Halthar caiu num sono mais pesado que o anterior. Então, a velha passou a corda lentamente por volta da criatura, atando-o a cadeira. 

-Rápido, não temos muito tempo. - Disse Cleide desatando os policiais.

-Quem é você, sua bruxa? - Inqueriu Fernandes, segurando seu polegar.

-Velhos que não fazem nada, não é? Fui professora de história celta e línguas antigas, sei muito mais do que pensam. Felizmente para mim, essa coisa aí não sabe tanto quanto eu e realmente acreditou que sou Artha.

-Quem é ele? - Perguntou Inácio.

-Halthar, autointitulado "o Poderoso". Uma entidade celta antiquíssima. Se perdeu de Artha e agora vaga tentando achá-la, ou melhor, achar a reencarnação dela. Mas não é hora de explicar isso, temos que ser rápidos. O feitiço não vai durar muito. Andem, para frente!

Cleide guiou os policiais até uma porta na cozinha. Quando abriu-a, era a despensa. 

-Rápido, entrem.

-Na despensa? - Disse Fernandes.

-Quer entrar ou morrer? Não temos muito tempo!

Os policiais entraram e ficaram quase espremidos no minúsculo cômodo. Cleide então deu pequenas instruções. 

-Assim que eu fechar a porta, tirem o pote de arroz do lugar e vão achar um botão. Apertem-no e serão descidos ao porão. Procurem por uma janela pequena, um pouco acima da cabeça de vocês. Saiam por ela e...

A cabeça da velha foi dividida de cima a baixo, quase completamente. A criatura então arrastou o corpo da mulher para fora da vista dos policiais. Inácio então fechou a porta e fez o que a mulher havia explicado. Em poucos segundos estavam no porão. 

-Caralho, temos que sair daqui rápido! - Fernandes exclamou. 

Foi então que ouviram um barulho vindo do disfarçado e inesperado elevador pelo qual vieram. 

-Estou chegando para matar vocês, inúteis!

Fernandes e Inácio começaram a procurar a tal janela que a velha havia falado. Estava semi-escondida por uma caixa de papelão em cima de uma prateleira repleta de ferramentas. 

-Porra, como vamos passar por isso, Fernandes? - Disse Inácio, com o resto de seu dedo jorrando sangue.

Num acesso de loucura, o policial abaixou e gritou.

-Inácio, usa minhas costas de escada! Rápido porra, depois você me ajuda a subir!

Inácio subiu nas costas do policial e abriu a janela, jogando algumas caixas para o lado. Após sair pela janela, virou-se para ajudar o amigo a subir, porém tudo que obteve foi um grito estridente.

-Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah!

Foi então que dois olhos foram jogados da janela e caíram ao lado de Inácio. Os olhos, ensanguentados, eram de Fernandes.

-Filho da puta, maldito do caralho! Chega!

Inácio foi até o carro da polícia, abriu o porta-malas e retirou um galão e um pé-de-cabra. Foi até a porta da frente da casa e emperrou-a usando a ferramenta. Vizinhos olhavam de suas janelas para a balbúrdia que estava acontecendo. Então, o policial abriu o galão e começou a jogar nas paredes exteriores da casa, janelas e no carro do casal. Foi até o portão deixando um rastro de combustível, e então pegou uma caixa de fósforos e acendeu um.

-Morra.

Jogou o palito aceso na trilha de gasolina e viu a casa explodir em chamas. Junto com as chamas e a fumaça, um grito de horror e maldição subiu e chegou aos ouvidos de Inácio, e um rosto hediondo se formara nas chamas. O policial caiu no chão em posição fetal chorando em silêncio.

Poucos dias depois...

-Doutor, o paciente do quarto 09 não melhorou. Devo aumentar a dose do medicamento?

-Sim, faça isso. Ministre 150 mg. Se não obtiver resultados, mandarei algo mais forte. 

No quarto 09, o paciente Inácio Freitas estava sentado em sua cama olhando para a janela, em direção a nada. Quando a enfermeira trouxe seu medicamento, não se deu ao luxo de encará-la. Ela passou os dedos em seus curativos e verificou que estava na hora de trocá-los. Se dirigiu então ao criado-mudo do paciente onde uma pequena caixa de plástico guardava os itens essenciais para a troca de bandagem. Quando a enfermeira pegou o bisturi que era usado para retirar os curativos, novamente o paciente entrou em estado de pânico.

-Aaaaaaaaaah, socorro, aaaaaaaaaaaaaaaah!

-Enfermeiros! ENFERMEIROS! Ajudem aqui!

Dois enfermeiros entraram para segurar o ex-policial enquanto a enfermeira dava-lhe o segundo sedativo no dia. Inácio permaneceria assim até que seu estado de choque fosse curado. No criado-mudo do quarto, o pequeno cartão repousava praticamente intocado. Em sua fronte, um alegre desenho natalino, e atrás palavras simples singelas: Feliz Natal.
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Passado Sangrento

Passado Sangrento - Capítulo III


Do meio da penumbra, como que disfarçada nas sombras, surgia a casa de Sezim. Só o vento se fazia ouvir pelo meio das árvores arrogantes que flanqueavam aquela imensa construção. A casa preservava as suas linhas harmoniosas, bem como toda a sua nobre monumentalidade. Acácio parou o Mercedes em frente ao edifício e observou a perplexidade no olhar de Ricardo ao vislumbrar a extravagante construção que se erguia perante ele.

Estava decrépita, pois já não era habitada há cerca de setenta e cinco anos. A casa situava-se numa bela rua tradicional da cidade, com famílias antigas e respeitadas. Fora uma casa senhorial de raiz agrícola. Uma excepcional propriedade erguida no século XIX, onde viveu ininterruptamente a família de Sezim. Agora era apenas um “museu” para ratos e aranhas. Não existiam quaisquer vestígios urbanos num raio de alguns quilômetros. Parecia que o tempo tinha parado no século XIX e assim tinha permanecido.

Depois de o seu ultimo proprietário (um conde Inglês) ter misteriosamente desaparecido em 1819, a Casa de Sezim nunca mais fora habitada por ninguém, nascendo assim o rumor da velha casa assombrada. Em 1930, o estado instaurou uma ação executiva e apropriou-se da propriedade, deixando-a ao abandono. 

Não foi preciso forçar o portão principal para penetrarem, pois apenas restavam algumas tábuas pregadas, que rangiam estridentemente quando arrastavam pelo chão. Acácio ia na frente e iluminava o corredor com uma lanterna a pilhas que retirara do seu bolso. Já no interior da casa, ambos pararam a contemplar a sua decrépita elegância: as paredes do salão nobre ainda se revestiam com um papel pintado de rara beleza.

O seu teto muito elevado conferia uma estatura descomunal ao hall de entrada. Do cimo do teto descaía uma enorme e aterradora teia de aranha, que pendia desleixadamente. Parecia estar ali para confirmar o abandono humano de décadas e décadas. Havia poeira no ar que se soltava do chão, após cada passada de cada um deles. 

É mesmo uma casa assombrada, pensaram. Acácio tomou a iniciativa e começou a subir a escada que levava ao piso superior. Achou que devia verificar os andares de cima em primeiro lugar, pois se alguém os esperasse para atacar, seria ali que se colocava, pois tirava maior vantagem posicional. Aprendera esta táctica na guerra.

-Não há ninguém, aqui! – Exclamou após ter revistado os quartos do andar de cima.

-Parece que aqui em baixo também não! – Respondeu Ricardo com uma entoação de alívio.

Um estrondo vigoroso de um trovão suspendera o silêncio sepulcral que se sentia na casa e a chuva começou a cair vigorosamente. Lá fora, o vento zunia zangado, forçando os carvalhos a balançar como se quisessem fugir do solo. Toda a casa rangia como se fosse um barco à deriva no mar nervoso. Caiu a noite e a casa ficou mergulhada numa acentuada penumbra.

-Temos de iluminar este lugar! – Advertiu Acácio.

Ricardo observou-o, e no momento em que o velho passou em frente de um espelho fixo na parede, ele notou que a imagem reflectida não fora a de Acácio Trigueiro, mas a do velho Albuquerque, com quem ele sonhava por vezes. Sentiu um formigueiro subir-lhe pela espinha.

-Sim, vou arranjar alguma madeira seca para fazer uma fogueira. – Sugeriu Ricardo.

-Nós já estivemos aqui! – Argumentou o velho Acácio, colocando as mãos sobre o lume para as aquecer.

-Como é que é possível já termos estado aqui? – Inquiriu Ricardo com o seu ar curioso.

-Eu explico. – Replicou ele calmamente, retirando o cachimbo do seu bolso. – Trabalhamos nesta casa em 1808. Eu era o teu avô e trabalhava na fábrica, lá mais atrás. O Conde Darkmoon era o dono de toda a região.

- Como sabe tudo isso? – Inquiriu Ricardo com o seu rosto sagaz.

- Fiz terapia de regressão... há trinta e oito anos! Ainda durante a guerra, eu estava na marinha e fui destacado para embarcar num cruzador. Mas em Janeiro de 1962, o navio teve uma grave avaria e teve de atracar de urgência, permanecendo num estaleiro durante uma semana. Enquanto o reparavam, decidi fazer algumas expedições pela selva, onde acidentalmente, conheci uma jovem de nome Hadija Aljani, feiticeira de uma tribo chamada “Sarparra” (cortadores de cabeças). Ela disse-me que eu era perseguido por um vulto das trevas, então insistiu em me hipnotizar para me ajudar a perceber o meu passado. Só assim conseguiria livrar-me do mal que me perseguia há séculos. O que vi diante dos meus olhos foi um horror terrível e inexplicável.
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Por Trás dos Milharais

Por Trás dos Milharais - Capítulo Final


Ele caminhava lentamente em nossa direção. Esboçava um enorme sorriso em seu rosto, repleto de cicatrizes.

-Se correrem sentirão mais dor! – Exclamou Cliv.

George me puxou para dentro da casa e trancou a porta.

-Vamos achar um lugar para nos esconder – Falou Claire.

-Vamos para o sótão – Disse Marcos, ofegante.

Todos subiram para o sótão. Era um lugar quente e escuro.

-E agora? Ele vai subir aqui! – Gritou George.

-Se acalme. – Disse, olhando pela janela.

Lá fora todos os espantalhos haviam virado cinzas. Pensei num jeito de enfraquecer Cliv e matá-lo. Até que algo me veio a mente.

-George, quero que me ajude a ir até a cozinha. E Marcos, fique aqui com a Claire.

Descemos as escadas com precaução. Seguimos até a cozinha sem o menor problema.

-Onde será que ele está? – Perguntou George, tremendo e suando.

-Deve estar nos procurando nos quartos. – Respondi.

Revirei as gavetas e prateleiras até achar o que eu queria. Peguei o saco de sal e segui para o sótão novamente.

Na escada de acesso ao sótão vimos Cliv. Que se dirigia para matar Marcos e Claire.

-Saiam daí! – Gritei.

Cliv olhou para trás e nos viu.

-Então o gordinho está aqui! Você será o primeiro! – Exclamou.

Ele correu na direção de George. A peixeira em suas mãos até parecia leve. A velocidade em que ele segurou o pescoço de meu amigo foi impressionante. Ele apertou-o com força, suas unhas entravam em sua pele, muito sangue era jorrado.

-Largue ele! – Gritei, tentando acertar um soco em sua face.

O soco atingiu seu rosto em cheio, mas não causou nenhum dano. Ele continuou segurando George.

-Assista seu amigo virar adubo! – Exclamou, sorrindo ainda mais.
Cliv segurou firme sua lamina e abriu a barriga de George com um forte movimento. Suas entranhas podiam ser vistas caindo no chão.

-Não! – Gritei.

-Sim! Sim! – Disse Cliv.

Ele segurou George e jogou-o pela janela.

-O solo ficará bem mais forte com esse aqui! Agora é sua vez. - Ele apontou para mim e sorriu.

Meu corpo inteiro estava congelado. Corri para fora da casa.

-Se der mais um passo seus amigos morrem agora mesmo! – Ameaçou.

Eu já estava no gramado. Cliv apareceu na porta segurando Claire e Marcos pelos braços. Sua peixeira estava guardada em um suporte em sua cintura.

-Quando o solo está nutrido você fica mais forte? – Perguntei.

-Vejo que entendeu.

-E se eu fizer isso? – Disse, jogando sal pela terra.

-Inteligente, porém não eficaz. Espero que tenha sal o bastante para a fazenda inteira.

Claire se soltou de seu braço e tentou correr. Cliv agarrou seus cabelos com força e a arrastou pelo chão.

-Se acha esperta não é?

Nesse momento ele puxou com mais força, arrancando seus cabelos juntamente com o couro cabeludo. Os gritos agonizantes de Claire podiam ser ouvidos de longe.

-Gostou querida? – Cliv riu novamente e pisou em seu pescoço, o quebrando como um copo de plástico.

-Cliv! Você por aqui? – A voz rouca não deixou duvidas de que era Pedro.

-O que quer aqui? - Perguntou Cliv.

-Quero apenas ver você morto... finalmente. – Respondeu, tirando um punhal de sua cintura.

Pedro caminhou até a distancia de um palmo de Cliv.

Marcos conseguiu se soltar e ficou ao meu lado.

-E como você pretende me matar? – Perguntou Cliv.

-Você nem imagina. – Pedro respondeu.

Cliv tirou sua peixeira da cintura e ergueu no ar. Pedro reagiu rapidamente, fincando seu punhal na parte abdominal de Cliv.

-Não dói tanto assim. – Um pouco de sangue saiu de sua boca.
Pedro ergueu a faca, ainda dentro dele, como se quisesse atingir todos os órgãos internos de seu inimigo.

Vimos o lugar ficar claro, varia tochas foram acendidas em cima do morro.

-Os moradores cansaram de sofrer. Querem vingança. – Disse Pedro, sorrindo – E agora desgraçado?

-Não vai ser tão fácil. – Respondeu, olhando a multidão se aproximar. – Morra!

A peixeira de Cliv atravessou a cabeça de Pedro. Um pedaço de sua cabeça caiu perto de nós. Ele tirou o punhal de sua barriga e lambeu o sangue, ainda sorrindo.

-Agora sim! O fim está próximo! – Exclamou.

A multidão correu em direção a ele. Tochas e pedaços de madeira atacaram o assassino.

-Acho melhor sairmos daqui. – Falou Marcos.

-Vamos até o portão da frente ver se a policia está a caminho. – Disse.

-Será que eles vão conseguir matá-lo? - Marcos me perguntou.

-Espero. – Tentei ser positivo.

Olhando para trás vi tudo ficar escuro novamente.

-Filho da puta! – Gritei, ao ver toda a multidão morta.

Conseguiu matar todas aquelas pessoas tão facilmente, pensei.

-Só há um jeito de acabar com isso. – Falei. – Fique aqui.

Corri em meio aos mortos e achei uma faca. O desespero tomou conta de mim.

Estava ficando louco.

-John, ele está ali. – Ele apontou para perto de uma arvore. – Vamos, qual é o seu plano?

Eu olhei fixamente para Cliv e sorri, finalmente havia entendido o propósito daquilo tudo. Finalmente iria conseguir me salvar.

-Qual é John? O que está acontecendo? Vamos dar o fora daqui! – Gritou.

Segurei firme a faca e cravei em seu peito. Marcos desabou no chão e seu sangue escorreu pelo solo.

-Até me sinto mais forte. – Falei.

-Será meu substituto. – Disse Cliv, orgulhoso.

-Podia ter dito antes seu propósito. – Afirmei.

-Mas daí, qual seria a graça?

Ele riu como se nunca rido antes. Seus olhos vermelhos estavam vivos e brilhantes, como se estivesse cada vez mais poderoso. 

Dois dias depois...

-E então John, vamos para a festa? Será num campo ao ar livre. Duzentas pessoas estarão lá! – Disse meu amigo, totalmente empolgado.

-Mas é claro. – Tentei esconder o sorriso em meu rosto.

Ao fechar a porta do carro vi meu reflexo no espelho. Duas pequenas manchas vermelhas começaram a se formar em meus olhos...

Autor: Firework Photos
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Passado Sangrento

Passado Sangrento - Capítulo II


Ricardo não era adepto de desportos radicais, mas naquela sexta-feira decidira ir até ao “parque da siderurgia” decidido a assistir às acrobacias que os praticantes destes esportes executam durante as suas performances. Além disso, estaria lá Cátia Faleiro com a sua Bike voadora. Para ele, isso era sinônimo de espetáculo. Cátia era uma garota de catorze anos, que frequentava o 9º ano, mas por quem ele tinha uma grande fixação. Não só por ser uma adolescente bonita, mas por tudo o que ela conseguia fazer em cima daquela Bike. Era uma arrebatadora de prêmios e de corações também.

O jovem sentou-se em cima do tronco de um carvalho e ficou a admirar a miúda a voar na sua Bike. Inesperadamente, apercebeu-se que alguém o observava. Era aquele homem que o perseguira naquele dia, à saída da escola. Reconheceu-o pelo odor do tabaco que soltara do seu cachimbo. Observou o homem e percebeu que este tinha começado a caminhar na sua direção.

Hesitou entre fugir devagar ou a correr. Mas a sua coragem levou-o a ficar ali quieto, à espera do homem misterioso.

-Olá. Não tenhas medo de mim, Ricardo!

-Como é que sabe o meu nome? – Perguntou com o rosto pleno de admiração.

-Eu sei sobre tudo sobre ti, rapaz – exclamou o velho, fixando-o.

-Desculpe, mas isso não é possível.

-É possível, sim. Sabes porquê?

-Não...

-Porque tu e eu temos os mesmos sonhos. Os mesmos pesadelos - Exclamou o velho.

-Eu não tenho pesadelo nenhum. – Respondeu Ricardo apressadamente.

-Tens! Eu sei que tens. Sonhas com um casa no campo, com o teu cãozinho, Dingo. E depois...com o monstro!

-Como é que sabe tudo isso?

-Porque já vivemos outras vidas, tu e eu. E há muito, muito tempo, nós dois enfrentamos o monstro.

-Que monstro? – Indagou Ricardo, perplexo.

- O conde Darkmoon!

Aquele nome tinha-lhe soado estranhamente familiar. Como era possível?

-Alguém ou algo o ressuscitou – Continuou o velho Acácio – e agora ele anda desesperadamente à tua procura, Ricardo.

-E agora? O que posso eu fazer? – Balbuciou.

-Tens de confiar em mim e vir comigo. Vamos fazer uma viagem no espaço e no tempo.

Ricardo abandonou o parque da siderurgia com o velho Acácio trigueiro. Depois enfiou-se dentro do Mercedes com ele e seguiram viagem em direção ao Minho.
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Por Trás dos Milharais

Por Trás dos Milharais - Capítulo III


Na barraca, nenhum sinal de vida.

-Vamos voltar para a casa! – Gritei.

George e David já estavam correndo para dentro. 

-Desgraçado, filho da puta! – Gritou George, empurrando com o dedo o peito de David. – Eu falei para você não mexer com isso!

-Cala boca seu gordo idiota

David e George começaram uma briga. Marcos e eu os seguramos.

-Parem com isso, temos problemas maiores por aqui! – Falei.

-Vamos procurar pela Rebeca e dar o fora. – Falou Marcos.

-Procurar? Ela está morta! Vamos embora! – Disse George.

Soltamos os dois fomos até o telefone pedir ajuda.

-A ajuda já está a caminho pessoal. – Falou Claire.

Isso nos aliviou por um tempo.

-John! John! – Gritou George.

-O que aconteceu? 

-O espantalho estava se mexendo. Eu juro que vi. – Disse ele, apontando para o milharal.


-O chapéu... O chapéu! – Gritei. – O chapéu dele tinha voado, tenho certeza!

Nessa hora um grito foi dado. 

-Foi a Rebeca! Veio do milharal! – Exclamou Marcos, correndo em direção ao gramado.

Corremos pelo meio do milharal em busca de Rebeca.

-Está vindo de lá – Gritou Marcos, apontando para a esquerda.

Chegamos no lugar onde o espantalho se encontrava. Em volta de sua estaca de madeira havia sangue espalhado pela terra e no rosto inanimado havia um sorriso macabro.

-Mas que merda é essa? – Gritou David.

Claire ficou em choque, se debruçou no chão e começou a chorar.
Estava muito escuro, apenas a luz das estrelas clareavam o local.

-O que estão fazendo aqui? – Uma voz grossa ecoou no ambiente.
Todos ficaram apavorados. Era um sujeito se aproximando.

-Vamos sair daqui! – Gritou Marcos.

Corremos até a casa e trancamos a porta.

-Mas que merda é essa? – Ouvimos o grito de George.

Ele estava na porta da cozinha, olhando fixamente para dentro. Com pedaços de carne e pele colados na parede, uma mensagem era dada:

“E agora... Acredita?”

-Seus tios têm algum tipo de arma aqui? – Perguntou David.

-Nenhum tipo. Mas Pedro pode nos ajudar. – Respondeu.

Ouvimos um estrondo vindo do lado de fora da casa.

-O que é isso? – Falou George se segurando nos moveis.

-Vamos pedir ajuda nas casas em cima do morro! – Exclamei.

Vários espantalhos cercavam a casa, impedindo nossa passagem. Todos eram iguais aquele já visto por mim. Ambos sorriam.

-Merda! – Gritou George.

David segurou um pedaço de madeira e acertou um espantalho com força. Passou por uma brecha entre dois bonecos.

-Consegui sair!
-Tome cuidado! – Alertou Claire.

Nessa mesma hora ouvimos o barulho de uma navalha cortando o ar. A cabeça de David fora jogada no nosso lado.

-Ah! Merda! Vamos todos morrer – Falou George. Claire entrou em desespero e entrou em disparada para dentro da casa.

-Claire! Temos que ficar juntos! - Gritei.

Seguimos ela até a porta do banheiro, onde ela havia se trancado. Ouvimos seu choro.

-David mereceu! Ele mereceu! – Disse George.

-Por que estão atrás de nós? Foi ele o culpado! – Marcos concordou.

Olhei por todas as janelas. Estávamos realmente cercados.
O telefone tocou. Corri para atender-lhe.

-Alô?

-Olá John. Aqui é Pedro, o vizinho. – Reconheci a voz dele, era a mesma voz que ouvimos no milharal.

-Fale como saímos daqui! Tire-nos daqui depressa! – Gritei.

-Vocês foram avisados. Era tão simples, apenas não falar aquela frase e não sair a noite. Isso provocou Cliv.

-Vocês do morro podem nos ajudar? – Perguntei.

-Você ainda não entendeu? Já estamos ajudando. Os espantalhos representam nossos parentes que morreram... estão mantendo Cliv fora da casa.

Fiquei em silencio.

-Mas os espantalhos não aguentarão por muito tempo. – Continuou – Cliv logo entrará ai. Há anos que tentamos achar a forma de matá-lo, mas a única pessoa que conseguiu isso foi o criado...
A ligação caiu.

-Era Pedro? – Perguntou Marcos.

-Sim. E temos que agir rápido. Cliv entrará em instantes.

Entrei no quarto onde a frase de Cliv estava escrita.

-Aqui que Cliv foi morto – Falei.

-Como você sabe? – Perguntou Marcos.

-Vi seu tio apagando a mensagem ali escrita. –Apontei.

Investigamos o quarto até que George entrou correndo pela porta gritando.

-Os espantalhos estão pegando fogo!

-Ele vai esperar eles virarem cinzas... – Disse.

-Vamos George, ache a arma que matou Cliv. Ela deve estar aqui. – Falou Marcos.

Reviramos o quarto e não achamos nada.

Em um momento de fúria joguei a cadeira de madeira contra a parede. A velha estrutura desabou.

-Tem algo aqui pessoal. – falei.

Dentre os destroços vi uma coisa um pouco arredondada. Tirei-a de lá e a limpei.

-Merda cara! Isso é...

-Um crânio – Interrompi George.

O resto do esqueleto se encontrava no meio da sujeira.

Todas as janelas da casa estouraram. Claire apareceu no quarto, gritando.

Estava ensanguentada, um pedaço de vidro atingira seu rosto.

-Não precisam se esconder! Quando eu entrar ai, acharei todos! – A voz ecoou pela casa.

Fui para o gramado e fiquei de frente para os espantalhos em chamas.

-Achei seu crânio, desgraçado! – Gritei, jogando o crânio por cima das chamas.

Uma risada alta e irritante começou a ser dada.

-Você acha mesmo que isso é meu? – Questionou – Esse crânio é de Earl... aquele criado achava mesmo que iria conseguir me matar. Eu deixo o solo forte com o sangue das pessoas, e ele retribui me deixando cada vez mais poderoso. Nem mesmo a morte conseguiu me deter.

Todos ficamos quietos.

-Só quero vocês mortos! Só isso! – Disse ele, rindo.

-Filho da puta! – Gritou George.

-Agora o gordinho é o primeiro da minha lista. – respondeu o xingamento.

Nesse momento os espantalhos começaram a se desintegrar. A frente nós finalmente vimos Cliv. Era um senhor alto e forte, usava um macacão típico de fazendeiros. Usava uma enorme peixeira nas mãos. Tinha a barba branca e seus olhos eram vermelhos e nos olhava com ódio.
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A Frequência do Medo


Este não é um conto ou postagem comum, caro leitor. Este post trata de algo realmente fantástico e, quem sabe, mortal. Após algumas pesquisas, constatamos que se as informações obtidas forem de fato usufruíveis, pode ter tantos benefícios quanto malefícios. Nesta postagem, iremos abordar a pouco conhecida Frequência do Medo.

O que é o som?

O som é a propagação de ondas (vibrações) em meios materiais, e quando chega a nossos ouvidos é convertido em informação que é enviada ao cérebro, sendo que este a interpreta.

O que é frequência?

A frequência é uma grandeza física que indica o número de ocorrências de um evento em um determinado intervalo de tempo. Por exemplo: se você consegue falar 120 palavras por minuto, logo sua frequência é 2 palavras por segundo. 

Usamos a frequência também para medir o som, sendo que quanto maior é a frequência, menor é o comprimento de onda (som agudo). Quando menor é a frequência, maior é o comprimento de onda (som grave). 

O que é a Frequência do Medo?

Com as guerras do século XX, a informação era uma arma valiosa. E como conseguir essa arma valiosa? Torturando soldados de outros exércitos capturados em batalha, logicamente. Tais soldados eram submetidos a sessões de tortura com o uso de altas frequências sonoras. 

Como era feito: os soldados eram trancados em salas com amplificadores sonoros. Então, protegidos por uma cabine a prova de som, os torturadores acionavam o gerador numa alta frequência até que os soldados ensurdecessem e ficassem loucos. 

Dessa forma, poucos obtiveram sucesso, visto que comprometia o aparelho auditivo e confundia a mente das pessoas, impedindo-as de processar certas informações. Mas os cientistas da época descobriram algo muito interessante: a uma determinada frequência sonora, teoricamente inaudível para os seres humanos, eles conseguiam provocar ataques de pânico nos soldados. Eles passavam a ver, ouvir e até sentir o cheiro de coisas inexistentes, e entravam num estado de terror inigualável, como se algo quisesse acabar com a vida deles naquele momento. 

A Frequência do Medo é uma onda infra ou ultrassônica capaz de alterar as informações processadas pelo cérebro e liberar grandes descargas de adrenalina, causando taquicardia, dilatação das pupilas, sudorese e tremedeira. Em exposições prolongadas, pode chegar a desmaio, estresse, percepção de cheiros e sons inexistentes no ambiente e alucinações.

A Frequência do Medo está situada entre 1~99 Hz ou 15000~20000 Hz. Por que essas frequências? São frequências teoricamente inaudíveis para o ser humano, ou seja, poucas pessoas conseguem de fato ouvir tais frequências como as outras. Em geral, músicos e pessoas que não tem histórico de problemas auditivos na família são os que melhor conseguem perceber essa faixa sonora. 

Porém, independente ou não de conseguir ouvi-la, todos são afetados por ela pois ocorre movimentação de matéria (ar) do mesmo modo. Indícios apontam que apenas 60 segundos de exposição à frequência exata já é suficiente para causar algum distúrbio emotivo. 

Consequências

A Frequência do Medo supostamente está perdida, junto com seus criadores. Caso alcançada novamente, ela poderia ser usada em tratamentos de pessoas com problemas auditivos e problemas psicológicos, porém também poderia ser usada para ressuscitar os antigos métodos de tortura, desta vez em larga escala.

Uma inexplorada máquina de tortura está praticamente ao alcance de todos. E você, caro leitor, o que acha da Frequência do Medo?
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Passado Sangrento

Passado Sangrento - Capítulo I

“Os sonhos, que têm muito para nos ensinar acerca da natureza da alma, retratam por vezes as muitas formas que temos de estar ligados ao passado. (...) Na vida exterior, podemos deixar uma pessoa ou um lugar mas, na memória e nos sonhos, a alma agarra-se a essas ligações passadas." Thomas Moore – Em busca da Alma Gêmea.

Darkmoon fora imaginosamente derrotado. Fora um inimigo brutal, muito mais do que uma alucinação, um pesadelo ou uma ameaça espectral. Uma sombra perversa que acompanhou aquelas duas “almas” durante cento e noventa anos. Foi o responsável pelas suas derrotas, mas também, pelos seus êxitos. Afinal, ele manteve-os vivos para que as suas vidas, apenas a “ele” pertencessem. Só Assim poderia pôr fim à sua longa e espinhosa caminhada: vingar a sua morte e retornar à vida. Darkmoon estava finalmente morto! Ricardo e Acácio Trigueiro ficaram para sempre unidos pelo condão mágico da vida: A amizade.

Acácio Trigueiro temia em deixar de respirar para sempre. Estava já a ficar sem visão e as suas pernas badalavam, enquanto aquela garra lhe comprimia a vulnerável veia jugular, não exibindo vontade de afrouxar.

Acácio não tinha hipóteses de altercar. Conhecia o opositor. Já o tinha defrontado há cento e noventa anos atrás. Derrotara-o, é certo, mas agora ele estava mais forte, mais eficaz e regressara com uma voraz sede de vingança.

-Onde está ele? – Berrou o ser hediondo.

Em sufoco, Acácio tentou responder, mas não conseguia sequer respirar. Sentiu, por breves momentos um alívio na sua garganta, mas ainda assim, continuava sufocado.

-Diz-me!... Onde está? – Insistiu a “coisa”.

-Não sei, imbecil! - Respondeu ele com dificuldade.

-Então morre, “Albuquerque”! – Roncou, arrojando a cabeça do velho Acácio contra uma lápide, deixando-o imobilizado no chão, a esvair-se em sangue. A criatura distanciou-se vagarosamente do local. Galgou para o seu imponente cavalo e partiu a galope, afastando-se rapidamente, largando um rasto de poeira que se confundiu com o nevoeiro denso e úmido que se abatera na noite. Era um ser sinistro. Estava mais assustador do que nunca. O velho Acácio não queria acreditar no que lhe estava a acontecer. Ainda tombado no chão, sentiu-se a desfalecer. Reviu a sua vida a trespassar-lhe a memória. Recordou-se dos seus filhos, ainda crianças; lembrou-se do seu casamento. Fixou o olhar na lápide da sua defunta e amada Filomena. Depois reviveu a sua juventude a bordo do submarino Albacora, onde navegara inúmeras vezes, e combatera durante a guerra Colonial, como 1º sargento.

Como vou fazer para encontrá-lo antes da coisa? - pensou.
Teria de ser mais inteligente. Deixaria que a sua alma o guiasse e conduzisse até aquele inocente que vivia o seu dia-a-dia sem imaginar o “mal” que agora o procurava.

Enquanto pensava nisto, Acácio reuniu forças para se levantar. Segurou-se à lápide onde jazia a sua eterna amada e pôs-se de pé. Sangrava abundantemente do flanco esquerdo da cabeça. Olhou em redor e examinou o ambiente sinistro que o cemitério emanava. As cores do crepúsculo tinham sido rendidas por uma lua tenebrosa, e a noite parecia mais escura do que nunca. Escutou o ribombar de um trovão e aguardou que o refrigério da chuva lhe acariciasse o rosto velho.

Cambaleante, com a sua longa gabardina despregada ao vento, Acácio parecia um “zombie” a escapar de um jazigo. De facto, ele era isso mesmo: um ser moribundo, entre a estreita linha que separa a vida da morte. - Vou encontrá-lo, antes “dele”! – Jurou em voz alta, enquanto procurava um portão para abandonar aquele local medonho.

A manhã despertara pálida e chuvosa. O ambiente na escola secundária das “Cavaquinhas” estava agitado. Os alunos faziam greve, reivindicando melhores condições nas salas de aulas, onde chovia sempre durante o inverno. Seguidamente, os ânimos exaltaram-se, e a policia começou a “aconchegar” alguns alunos mais atiçados, o que fez com que Ricardo Gonçalves abandonasse o local, e voltasse para casa a fim de evitar confusões.

As aulas tinham começado há pouco mais de um mês, mas Ricardo já estava enfadado da escola, dos professores e até da sua própria turma. Órfão de pais, vivia no Seixal com os seus Tios, José e Magda. Sobrevivera a um violento acidente de viação quando tinha nove meses. Não se lembrava de nada, mas sabia que tinha sido dessa forma trágica que os seus pais tinham falecido.

Ricardo seguiu a pé até casa, pois esta distava apenas um quilômetro da escola. Caminhou, aparentando ser um rapaz alegre, mas na realidade, não era. Por vezes, ficava tenso e sombrio. Especialmente, quando era atormentado por pesadelos. Não eram pesadelos vulgares. Acordava sempre muito confuso, sem saber o que tinha acabado de sonhar. Depois permanecia alguns minutos a tentar diferençar o que era sonho e o que era realidade. Durante o dia, esforçava-se por não pensar nos pesadelos que o atormentava de noite.

Olhou em várias direções antes de atravessar a estrada, mas logo que lhe pôs o pé, foi surpreendido por um ronco de um carro acelerado, que surgiu logo a seguir à curva. Para surpresa dele, a viatura deteve-se mesmo à sua frente.

Ricardo olhou de soslaio, e a sua mente criativa fê-lo imaginar se aquele individuo não seria um agente do “SIS” (Serviço de Informação e Segurança), que andava a seguir os manifestantes para os identificarem, e seguidamente, prenderem. O jovem estudante sentiu-se pouco à vontade e sem reação, mas ainda teve tempo de observar a viatura que o seguira. Era um “Mercedes” preto. Fixou também o rosto do condutor. Tinha uma fronte velha, um rosto barbudo e usava um boné preto. O estranho fumegou o seu cachimbo de “roseira brava”e fixou-o com um ar ameaçador. Depois arrancou com o carro numa velocidade moderada, abandonando a rua subtilmente. Confuso, sentou-se no passeio; respirou profundamente e visualizou mentalmente, o rosto do homem, mas pareceu-lhe estranhamente inofensivo. Decidiu ignorar o incidente e voltar para casa.

Quando chegou à residência, Ricardo fitou a sua tia Magda no exterior do quintal a borrifar as sebes ornamentadas com cameleira.

-Olá Tia. Estou um pouco cansado. Vou pró meu quarto. – Disse vagamente.

Arremessou a sua mochila para o canto e caiu estatelado na cama. Olhou para o teto, e ainda matutou durante algumas horas no que lhe acontecera, mas sentia-se tão extenuado que acabou por adormecer. A acalmia da noite fora interrompida pelo latir de um cão. Não era um ladrar normal, algo se passava lá fora. Levantou-se apavorado, ficando na dúvida, se devia descer ou ficar protegido e resguardado no seu quarto. Algo invadira a casa. Não era alguém, era “algo”. Susteve a respiração durante alguns segundos para poder escutar melhor o que estava a acontecer. Pareceu-lhe ouvir um arrastar pesado. Aproximava-se vagarosamente do seu quarto e vinha matá-lo. Decidiu fugir. Era a única solução que lhe restava. Abriu a janela, galgou o parapeito e saltou para a cobertura onde balouçou, tentando obter algum equilíbrio. Tomado pelo terror, tomou balanço e saltou para o chão. Era uma queda de três metros, mas se aquela “coisa” o apanhasse, certamente seria bem pior.
Caiu no chão duro e sentiu o tornozelo estalar. Conseguiu levantar-se e afastou-se, penetrando no pinhal que se estendia atrás da sua casa.

Ricardo correu até não poder mais. Estava ofegante e exausto, pois já não tinha fôlego. Decidiu parar. Ouviu Dingo (o seu cão e amigo) a ladrar. O latido fora interrompido por um ganido agudo e doloroso. Aquela coisa tinha esquartejado o pobre Dingo. Fez-se um silêncio de morte, e apenas o rumorejar do vento arrefecido entre as vinhas espessas, mantinha desperto o silêncio da noite. Nem os excêntricos espantalhos que guardavam a plantação se moviam. Pareciam ter horror do que se aproximava. Já não restava fôlego nem forças ao pequeno para se mover. O seu tornozelo também não suportava mais. Começou a arrastar-se, fazendo impulsão com os braços, puxando o resto do corpo para a frente. Os caniçais começaram a mover-se. Algo caminhava na sua direção. Acolheu uns pingos úmidos na testa. Começou a chover imaginou; Olhou para cima e gelou-lhe o sangue ao avistar a criatura monstruosa que o contemplava, encharcada em algas e empastada com musgos lamacentos. O ser agarrou-o pelo pescoço com violência, e ergueu-o até ao nível da sua face desfigurada. Quando Ricardo olhou de frente para o opositor, soltou um grito gutural de terror.

-Ricardo, Ricardo! – Era a tia Magda quem o abanava bruscamente – Você tava tendo um pesadelo, meu querido. Calma!

-Tia Magda!... Que pesadelo horrível! – Balbuciou ele, enquanto despertava confuso e amedrontado.

Passou a mão pelo cabelo e pela testa; estava alagado em suor; tentou recordar-se do pesadelo e do rosto daquela coisa, mas rapidamente a imagem fugiu-lhe.
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