Cinco Passos - Capítulo III
Sumiu. Tão rápido quanto apareceu, aquela abominação sumiu!
-Julio, o que tá esperando? Vem logo me ajudar com as coisas filhão! - Odeio quando meu pai me chama de filhão.
Pensei que ia demorar. Só 20 minutos e arrumamos tudo, e olha que tinha bastante coisa. Fomos para a sala, já eram cinco da tarde quando ligamos a velha televisão e começamos a assistir o programa local. Colocamos no canal 47, a TV União, um dos poucos que pegava com certa qualidade. Estava passando o Região, um programa de entrevistas diário com assuntos da atualidade. Não me interessei por aquilo, e resolvi trocar de canal.
-O que vai fazer? - Disse meu pai.
-Trocar de canal. Esse é uma chatice!
-Não vai não. Deixa essa bosta de controle em cima da mesa e cala a boca por que eu quero ouvir!
Meu pai gritando. Fato inédito na minha vida. Todos estavam olhando pra ele.
-Relaxa pai, só ia trocar de canal.
-Escuta aqui seu atrevido, me responda de novo e vou te meter a mão na cara!
-Mas...
-Vai pro quarto agora, seu animal imundo! Ser inferior!
Meu pai nunca falou assim comigo, o que será que deu nele?
Não vou mais contrariar. Não to aqui pra ficar estressado. E o interessante é que nunca ele agiu desta maneira... o que será que aconteceu?
Passou um dia. Oito da manhã de um domingo, ninguém merece.
-Julio, já acordou? - Disse Lucas.
-Não, sou sonâmbulo. - Acordei irritado.
-Cara, que mal-humor é esse?
-Desculpa mano, sei lá o que tá acontecendo. Desde que cheguei aqui to com uma sensação estranha, como se alguma coisa estivesse tentando entrar nessa casa... meu senso de perigo está sensível há alguns dias.
-Deixa disso cara, curte as férias. Tua mãe mandou chamar que o café já está pronto. E depois vamos ver os preparativos para a Eapic. Antes mesmo de entrar em Julho eles começam a preparar as coisas.
-Nem sei se to afim de ir.
-Tua mãe vai ficar nervosa...
-Pois é, resolvi ir então.
Assim que chego na cozinha, o clima estava tenso. Meu pai estava conversando com a minha mãe, e não parecia mais irritado.
-Meu bem, desculpe ter gritado. Não queria assustar vocês.
-Você deve desculpas para teu filho, Fernando, não pra mim. Gritou com ele mas até eu fiquei com medo.
-Deixa mãe, ta tudo bem. O pai só está estressado. Com o passar das férias ele se acalma.
-É, acho que me acalmo... regina...
-O que?
-Nada. Vou me deitar um pouco. Tomem café e vão a Eapic sem mim.
Assim que meu pai saiu, minha mãe me puxou de lado. Bianca e Lucas tomavam seu café sossegados. Fizeram bem em não se meter.
-Não vamos na Eapic. Aconteceram algumas coisas que me deixaram... precisando de um conselho superior, digamos assim.
-Você vai aonde?
-Não se preocupe, eu volto logo. Tome café com seus amigos e saiam para dar um passeio por aí...
-Beleza, nos vemos mais tarde então.
Ela tá tão estranha quanto meu pai. Tem algo de podre nessas férias, e eu vou descobrir o que é.
Enquanto isso, do outro lado da cidade...
-Padre Carlos?
-Carmen, minha filha, quanto tempo! Não nos vemos desde...
-Desculpe interromper, mas preciso de sua ajuda.
-Olhe, sei que aquela época foram momentos de confusão para você mas eu lhe garanto que tem meu apoio.
-Não vim falar sobre isso. Assim que cheguei a esta cidade, notei algo de diferente no ar. Algo que não tinha antes. E creio que minha família corre grande perigo.