Cinco Passos - Capítulo V
-Bia, será que o pai do Julio melhorou?
-Não sei Lucas... ele estava muito estranho, né?
-Claro, ficou gritando com o coitado... será que é por nossa culpa?
-Claro que não, larga de ser burro. Quer dizer, por que seria? Não fizemos nada de mal pra ninguém...
-De fato. Será que devemos ir até lá ver como ele está?
-Não sei. Ele parecia cansado, acho melhor deixar ele quieto.
-Mas Bia, ele pode estar precisando de alguma coisa.
-É verdade... quer saber, vamos lá. Estamos só preocupados, o pior que pode acontecer é ele falar para a gente sair.
-Certo, vamos lá então. - Disse Lucas.
Chegaram ao quarto com uma xícara de café.
-Seu Fernando? Está melhor? - Sons estranhos vingam de dentro do quarto.
-Melhor bater, não?
-Shiu! Escuta...
-Ah sei into pai, apa meibe upom dai.
-Credo, o que é isso? - Disse Lucas.
-Vamos entrar.
-Você tá loca?! Ele pode estar louco!
-Larga de ser bobo garoto, isso é coisa de filme!
Bianca foi abrindo a porta lentamente. O que viram não foi nada bonito.
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-Mãe, você pode me contar o que está acontecendo?
-Ah, não é nada. Eu e seu pai estamos só um pouco estressados, só isso.
-Mas estamos de férias, não deveriam estar tão tensos assim.
-Eu sei Julio, eu sei.
Depois de uma pequena caminhada, chegamos até a casa em que estávamos.
-Tem alguma coisa errada, mãe. De quem é aquele carro? Aquele não é o Padre Carlos?
-Sim, é ele. A coisa ficou pior do que pensei!
Chegamos mais perto.
-Padre Carlos. O que faz aqui e quem são eles?- Disse minha mãe apontando para dois homens vestidos de preto. Um parecia ter uns 60 anos, enquanto o outro não mais que 25. Pareciam padres também.
-Carmen, estes são Ignácio e Pietro. - Disse o Padre. - Depois do que você me falou, fiquei com receio do que poderia acontecer e como ele estava passando por aqui, resolvi chamá-lo.
-Mas quem são eles de fato? - Perguntei.
-Olá Carmen. Sou Ignácio, este é Pietro, meu aprendiz. Eu sou formado em Teologia e Filosofia pela PUC de São Paulo, fui ordenado padre aos vinte e cinco anos, e há vinte e seis tenho uma autorização direta do arcebispo da Arquidiocese de São Paulo para presidir certos casos... estranhos. - Disse o homem.
-Casos estranhos? Como assim?
-O Padre Ignácio é especializado no estudo e pesquisa de atividades paranormais. Um dos poucos no Brasil. - Disse o jovem Pietro.
-Ele é um exorcista? - Falei.
-Garoto, exorcismo é pouco. - Disse Padre Carlos. - Além de exorcismo, aparições demoníacas, assombrações e tudo de estranho que você possa imaginar.
-Mas Padre Carlos, - Disse minha mãe. - você acha mesmo que precisamos da ajuda dele?
-Carmen, você mais do que eu sabe que a ajuda dele é mais que necessária. Quando estava indo às reuniões você sabia que isso poderia acontecer alguma hora, e infelizmente essa hora chegou. Melhor acabar com isso agora.
-Mãe, que reuniões são essas? O que aconteceu?
-Acho que está na hora de revelar alguns fatos, Julio. Bom, há vinte e cinco anos...
-AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!!
Apenas um grito agudo foi suficiente para nos despertar das explicações e olhar para a casa novamente. No céu, nuvens negras estavam baixas e trovões começaram a ecoar pela cidade. No telhado da antiga casa, vi perfeitamente aquilo que me assombrou na vinda para esta cidade. A aparição negra estava de volta. E isso não vai terminar nada bem.