Ouija, o jogo - Parte VI
Não sabia direito o que seria aquilo dentro da caixa, mas sabia que era algo perigoso e altamente destrutivo contra Lúcifer, porém, não o tínhamos conosco. Ele segurava a caixa como se fosse um troféu, levantava-o orgulhosamente a todo o instante. O ambiente que estávamos ainda estava muito gelado. Minha mãe olhava a todo o instante para a caixa, acho que queria entender como Lúcifer a pegara.
― Nem tente vir pegar a Kalépsia, Julia, ou acabo com você antes mesmo de conseguir se mover. ― disse friamente Lúcifer.
― Não ouse falar assim com ela, seu desgraçado imundo! ― falei autoritariamente.
Ele gargalhou.
― Não ouse falar assim comigo, sua criança tola! ― disse-me rindo.
― Deixe-o em paz, Lúcifer. ― falou minha mãe. ― Por favor, deixe-os ir e vamos terminar com isso. ― suplicou minha mãe. Seus olhos estavam cheios de lágrimas.
― Dá outra vez que deixei seu marido sair, você me mandou para um lugar desagradável, Julia. ― disse Lúcifer. ― Dessa vez todos irão ficar e assistir a sua morte. ― falou.
Tremia de raiva e de medo. Raiva por Lúcifer ter ameaçado minha mãe e medo de que ela pudesse morrer, e eu não sabia como impedir isso. Olhava constantemente para a caixa na mão dele, a todo o momento vinha uma vontade de correr e agarrá-la, acho que minha mãe percebia isso em mim, por isso nunca soltava meu braço. Olhei para o relógio: 23:13. O tempo passava e só em pensar o que poderia vir a seguir meu estômago embrulhava.
― Hum, com quem vamos começar? ― perguntava-se Lúcifer. ― Acho que com esse garotinho aqui. ― falou, agarrando Pedro.
Todos nós gritamos para tentar impedir que Lúcifer o pegasse. Ele pegou Pedro pelo braço e colocou-o na sua frente, evocou algumas palavras que não pude compreender (acho que era latim) e quebrou o pescoço de Pedro. Nós gritamos muito, desesperadamente. Já era tarde. Pedro caíra no chão morto. Não seguramos as lágrimas.
― Desgraçado! ― gritou João, que correu para pegar Pedro.
Aline tinha ficado em estado de choque. Eu estava atordoado e minha mãe olhava para Pedro, de uma forma, como se duvidasse que ele estivesse morto. Aparentemente estava: seu corpo estava todo pálido e os olhos arregalados.
― Pronto. Menos um. ― disse cinicamente Lúcifer. ― Próximo... ― falou.
― Espere! ― gritou minha mãe. ― Liberte-os e eu trocarei a minha alma. ― disse minha mãe.
― Não preciso de trocas, vou pegá-la de qualquer maneira. ― respondeu-lhe.
― Vamos lá, Lúcifer, você sabe muito bem que uma troca vale mais do que você simplesmente pegar. ― disse minha mãe, tentando convencer Lúcifer.
Lúcifer havia ficando calado e pensativo, acho que estava pensando na proposta da minha mãe. Se ele sabia convencer uma pessoa, minha mãe tinha esse “dom” na alma. Eu estava apreensivo fui até onde estava João e ajudei-o a pegar o corpo desfalecido de Pedro e colocá-lo próximo a nós.
― E então? O que você me diz? ― perguntou minha mãe.
― Não, Julia. ― respondeu-lhe rispidamente Lúcifer.
Minha mãe pareceu desapontada. Eu não sabia o que fazer. Olhei para Aline que estava sentada no chão do lado esquerdo de Lúcifer, percebi que ela olhava para a caixa, era como se estivesse calculando e analisando o melhor momento para agarrá-la. Percebendo isso, pensei em alguma coisa que pudesse distrair Lúcifer para, enfim, Aline conseguir agarrar a caixa de sua mão. Peguei uma bola de baseball e arremessei contra Lúcifer. A bola batera no meio de sua testa. Seus olhos se arderam em fogo. Senti uma força me puxar para frente e fui arremessado contra a parede.
― Não! ― gritou minha mãe.
Minha mãe foi ao meu socorro. Quando cai no chão pude ver Aline correr e tentar agarrar a caixa que estava na mão de Lúcifer. A tentativa havia sido em vão. Antes mesmo que ela conseguisse chegar perto dele, ela foi arremessada contra a parede pela mesma força que me pegara há pouco. Perdi as esperanças, pensei. Quando baixei a cabeça, senti alguém passando na cozinha, pensei que seria mais algum espírito, pois na casa havia vários. Sabia que era alguma coisa diferente e realmente era: Ellen correu na direção de Lúcifer e bateu com a mão na caixa que ele segurara. Ellen foi arremessada e caiu sobre o sofá.
A caixa rolou no chão e caiu sobre os meus pés. Agarrei e joguei para minha mãe. A expressão do rosto de Lúcifer mudara, estava assustado, pela primeira vez.
― Você não tem o poder de usar a pedra! ― bradou Lúcifer para minha mãe.
― Eu não tenho, mas Ele tem! ― falou minha mãe, levantando a caixa. ― Gabriel! Agora! ― gritou minha mãe.
Naquele mesmo instante apareceu um cara vestido de camiseta vermelha e jeans, acho que ele estava do lado de fora da casa. Ele agarrou a caixa na mão da minha mãe e ficou de frente para Lúcifer. Neste momento, vi Lúcifer tremer, era como se estivesse vendo uma coisa que ele tinha medo.
― Corram todos e fechem os olhos! ― gritou Gabriel.
Nós corremos e entramos na sala de jantar, caímos no chão. O grito que Lúcifer deu foi ensurdecedor. Mesmo com os olhos fechados pude sentir um forte clarão vindo da sala. Abri um dos olhos e pude ver o mesmo redemoinho escuro entorno de Lúcifer, a força foi tão grande que o fez cair violentamente sobre o chão. O redemoinho saíra pela janela em grande velocidade, levando consigo o frio, os medos, as angústias e todos os outros demônios que ali estavam. Pela primeira vez, senti-me aliviado.
Nós nos levantamos meio atordoados ainda e fomos até a sala. As luzes da casa e do lado de fora estavam normais como antes, não sentia mais frio, o clima agora era aconchegante e acolhedor. Vimos Gabriel caído no chão com as roupas um pouco rasgadas e as pontas queimadas. Corremos em direção a ele e pudemos constatar que ele estava vivo. Gabriel abriu os olhos e olhou em volta. A expressão no seu rosto era de extrema alegria, deveria ter constatado que Lúcifer não se fazia mais presente, nem ele, nem os outros espíritos.
― Gabriel? ― disse docemente, minha mãe. ― Você está bem, querido? ― perguntou.
― Ai... um pouco dolorido, mas estou bem sim! ― respondeu com um leve e doce sorriso.
― Mãe? ― chamei-a. ― E o Pedro? ― perguntei com os olhos cheios de lágrimas.
― Gabriel, será que você pode fazer alguma coisa? Acho que ele não o matou, só colocou a alma dele em outro local. ― perguntou minha mãe a Gabriel.
― Vou vê-lo. ― respondeu Gabriel, levantando-se e indo em direção a Pedro.
Gabriel pegou a cabeça de Pedro e olhou nos olhos dele e constatou ainda algum sinal de vida. Ainda cambaleando, Gabriel pegou Pedro no colo, olhou nos seus olhos novamente e pronunciou algumas palavras em latim (do mesmo jeito que Lúcifer havia feito antes). Percebi que sua pele voltava ao aspecto normal a cada palavra de Gabriel. Quando terminara evocação, Pedro piscou os olhos e respirou profundamente, como se estivesse acabado de sair debaixo d’água. Aline correu e o abraçou.
Olhei para a Ellen e corri para abraçá-la, estava muito feliz por saber que ela estava bem. Mas como? Questionei-me.