Cinco Passos - Capítulo VII
-Pietro e Padre Carlos, venham comigo. Vocês fiquem aqui,
vamos resolver isso. - Ordenou Padre Ignácio.
-Mas e meus amigos? - Gritei.
-Eles ficarão bem. Agora deixe-nos trabalhar e tome conta da
sua mãe.
Os três saíram levando alguns equipamentos e logo
desapareceram escada acima.
-Mãe, o que está acontecendo?
-Hora de explicar as coisas... há vinte e cinco anos, nove
anos antes de engravidar de você, eu comecei a frequentar o GPP, Grupo de
Pesquisa Paranormal. Era um grupo dedicado a ajudar pessoas com problemas
estranhos, como supostas aparições, assombrações e tudo mais. Padre Carlos e
Elvina se interessaram pelo grupo também, e ingressaram nele. Ao todo, éramos
uma equipe de 22 pessoas, entre profissionais, amadores, curiosos e religiosos.
Durante cinco anos, lutei com eles contra diversas criaturas demoníacas, porém
toda minha coragem veio abaixo. Certa noite, enquanto explorávamos uma casa
supostamente assombrada, o chão cedeu sob meus pés e caí num cômodo escuro. A
minha frente, estava a criatura mais tenebrosa que eu já havia visto. Ela
vestia um manto negro e rasgado, praticamente fantasmagórico. Tinha olhos
vermelhos e não se apoiava pelos pés, mas sim voava sinistramente. A criatura
começou a sussurrar em meu ouvido que eu estava predestinada a algo, mas não
faço ideia do que ela quis dizer com isso. Pouco antes de reforços chegarem, a
assombração desapareceu numa numa nuvem espectral e nunca mais a vi.
-E depois disso largou o grupo e não se interessou mais? -
Perguntei.
-Exato. Conheci seu pai logo após sair do grupo e não mais
voltei para ele.
Neste momento, Padre Ignácio desceu as escadas trazendo
Bianca cambaleando. Enquanto isso, Padre Carlos e Pietro carregavam Lucas, que
parecia desacordado.
-Meu Deus, o que aconteceu?! - Disse minha mãe.
-Eles foram atacados. - Disse Pietro com sotaque italiano.
-E meu marido, onde está?
-Não o achamos. Apenas um círculo no chão com um pentagrama,
e estes dois estavam caídos. - Disse Padre Carlos.
-Não há mais nada a fazer por aqui. - Disse Ignácio. - Eles
estão apenas desmaiados, irão acordar em poucas horas. Não há mais perigo em
nossa casa.
-Vou chamar a polícia! Meu marido sumiu!
-Receio que não seja possível, Carmen. Você precisa esperar
24 horas antes de acionar a polícia por desaparecimento. Descanse por enquanto
e bote a cabeça em ordem. Padre Carlos, Pietro, vamos voltar para a Igreja e
arrumar algumas coisas. Tenho uma ideia de como seguir aquela coisa antes que
algo pior aconteça. - Concluiu o padre e saiu da casa junto com os outros.
Bianca e Lucas estavam jogados no sofá, porém Lucas parecia
um pouco mais... pálido.
-Julio, vou la em cima arrumar as coisas e decidir o que
fazer... Cuide de seus amigos... - Dizendo isso, minha mãe saiu.
Olhando mais de perto, vejo que Lucas está dormindo
profundamente, com o peito estufando e esvaziando lentamente. Ao contrário de
Bianca, que não para de se mexer.
-Lucas... cuidado Lucas...
-Bianca? Bianca, acorda.
-Cuidado!!!!!!!!!!!!
Bianca acordou assustada e chorando.
-Calma Bia, vai ficar tudo bem.
-Ju... eles, eles...
-Não fala, eu sei o que aconteceu. Vem, vou te levar para o
quarto, você tem que descansar.
Levando Bianca para o quarto, vejo minha mãe trancando o
quarto de casal em que estava com meu pai. Deixo ela deitada na cama... tão
linda, tão perfeita e passando por tudo isso...
Assim que desço as escadas, ouço um barulho estranho. Lucas
não está mais no sofá.
-Lucas?
Sem resposta. Vejo a porta da cozinha entreaberta. Assim que
entro no cômodo, uma figura grande está parada em frente a geladeira remexendo
nas coisas. No chão, uma poça de sangue enorme.
-Julio, tem algo para comer? De preferência algo mal
passado.
Quando Lucas se vira para mim, vejo as mãos e a boca cheias
de sangue e um pacote de carne na mão. Então eu noto algo que nem minha mãe nem
Padre Ignácio notou... dois furos paralelos no pescoço, próximos a jugular.