Cinco Passos - Capítulo X
-E agora, o que faremos Bianca?
-Eu que sei?
-Já sei. Vamos.
-De novo Julio? Pra onde agora?
-Agora sim vamos procurar o Lucas. Mas não conte nada para
minha mãe, vamos falar que... sei la, vamos na sorveteria.
-Mas Julio, não vai colar.
-Por que?
-Pelo simples fato que é domingo e são quase seis horas da
tarde. Ta fechada!
-Esqueceu que tá tendo a Eapic? O comércio todo deve estar
aberto, eles não fechariam com um baita evento desses. Vamos descer, deixa que
eu falo com a minha mãe.
Dei uma última olhada no quadro e na porta. O rosto do
fundador da cidade olhava para a esquerda em direção do final do corredor.
Descemos as escadas calmamente, como se não quiséssemos nada. Minha mãe estava
terminando de lavar a louça do jantar, e o resto da cozinha já estava toda
arrumada.
-Mãe, precisa de ajuda em alguma coisa?
-Não Julio, já arrumei tudo. Mas amanhã você vai lavar essa
louça.
-Pode deixar. Viu, eu e a Bianca vamos até o centro dar uma
volta e tomar um sorvete, tudo bem?
-Está bem, filho. Volte antes das dez da noite.
-Voltarei.
Saímos da casa e começamos a andar pela rua até que chegamos
ao centro. Caminhamos pela Avenida Dona Gertrudes até chegar na Padaria Dona
Elza. Entramos.
-Estamos fechando! - Disse uma senhora de idade.
-Não podemos comprar nada bem rápido? Viemos do outro lado
da cidade...
-Bom... está bem, sejam rápidos. Hoje não dá pra ficar muito
tempo aberto...
-Por que? - Disse Bianca.
-Essa maldita Eapic... desde que começaram a fazer essa balburdia
por aqui há quase 40 anos, não posso ficar com a padaria aberta depois das seis
da tarde. Trouxeram umas más influências para cá!
-Más influências? De que tipo? - Perguntei enquanto pegava
dois sorvetes na geladeira da Kibon.
-Do tipo que vestem roupas pretas mesmo se tiver um sol do
inferno! Nunca vi andar daquele jeito e gostar tanto de cemitério! Ah se minha
santa avó estivesse aqui... iria botar esses meliantes para correr! - Disse a
velha senhora sacudindo as mãos.
-Certo... quanto fica isso aqui? - Falei.
-Cinco reais. - Dei o dinheiro a velha. - E sugiro que
voltem para casa agora por que já ta escurecendo.
Saímos da padaria que logo em seguida foi fechada. Fomos em
direção a Praça das Palmeiras, rumando ao norte junta à Avenida Dona Gertrudes.
Enquanto passávamos ao lado dos carros estacionados, continuamos nossa
conversa.
-Bom, o Lucas não ta aqui. E agora Julio?
-Bom, vamos continuar subindo a avenida... aqui parece ser
bastante movimentado. Ele vai aparecer em algum momento. Se a gente não
encontrar ele aqui, podemos ir na...
-Hey Julio! - Gritou uma voz conhecida. Era Leonardo do
outro lado da praça, acompanhado de Beatriz e Felipe.
-Ah, oi! - Falei, surpreso.
-O que faz por aqui playboy? - Disse Beatriz.
-To procurando um amigo meu. Ah, essa aqui é Bianca, minha
amiga. Bia, estes são Leonardo, Beatriz e Felipe.
-Olá! - Disse Bianca.
-Qual o nome dele Julio? - Perguntou Felipe.
-Ele se chama Lucas. É alto, talvez 1m e 80cm, cabelos e
olhos castanhos. Não devem ter visto ele, acho que ele está perto da minha
casa.
-Só com essas informações é difícil cara. - Falou Leonardo.
- O que ele tava vestindo?
-Da última vez que o vi ele estava com uma calça jeans azul
escura com alguns detalhes e uma camisa branca possivelmente manchada de
sangue. - Falei.
Enquanto eu falava Beatriz foi arregalando os olhos. Olhou
para Felipe e o puxou de lado.
-Seu idiota! Eu falei que isso ia dar merda! - Gritou.
-Foi mal Beatriz...
-Foi mal nada! É Lua Negra cara, como você faz um negócio
desses? - Gritou a garota já fora de si. - Temos que achar o garoto e trazer
ele para perto de nós antes que ele comece a matar a cidade toda!
-Opa, pera lá! Como assim? - Falei.
-Julio, temos que conversar seriamente. - Disse Beatriz. - Venha
com a gente, não dá pra falar aqui no meio desse povo fofoqueiro.
Dizendo isso, ela virou na direção contrária e começamos a
caminhar. A caminhada passou a trote, e então quando vi já estávamos correndo.
Fomos seguindo Beatriz até chegar num lugar que eu não esperava mas já havia
pensado. Rua da Saudade, número 106. O Cemitério Municipal de São João da Boa
vista.