Cinco Passos - Capítulo II
-Cara, você trouxe seu notebook? - Esse Lucas...
-Por que eu iria levar um notebook para uma viagem? Quem gosta de pornô é você!
-Vai se catar, você sabe que não falo com a Marcella há dias!
-Meninos, parem. - Disse meu pai - Estamos de férias! Daqui a pouco passaremos quatro maravilhosas semanas em São José da Boa Viagem!
-Pai, nós vamos para São João da Boa Vista, não São José da Boa Viagem.
-Pode ser isso mesmo. Agora vamos descansar um pouco, certo?
-Fernando, nem você sabe pra onde estamos indo. Você sabe o nome da chácara onde iremos ficar?
-Oras, é claro que sei. Acho que é Elizabeth II ou algo assim. Mas não importa, o que importa é que nós...
-Pai, olhe a estrada!
Um vulto negro apareceu na nossa frente. Embora rápido, deu pra ver claramente a aparição. Capa negra, olhos vermelhos, sem pernas sustentando o corpo, voando um pouco acima do solo. A criatura se projetou na frente do carro, se aproximando a medida que avançávamos. Assim que o carro pareceu atropelá-lo, a aparição alçou voo e desapareceu no ar.
-Do que você está falando, Julio? - Estranho. Todos estão olhando para mim assustados. - Não tem nada na estrada.
-Sério que vocês não viram aquilo?! Passou raspando no nosso carro, é impossível não terem visto!
-Julio, você ta bem? - Ela só pode estar brincando!
-Claro que estou bem, quem não está são vocês! Como não viram aquilo? Quer saber, dane-se. Vou dormir que meu mal é sono, isso sim.
-Sim querido, vá dormir que poupa a todos nós.
A viagem passou rápido. Claro, quando se dorme passa rápido mesmo. O que poderia se esperar de uma cidade do interior? Chuva, frio, tédio... Mas, em revés, o que encontrei foi uma perfeita tarde de sol, um calor de praia e uma animação contagiante. A Eapic é uma festa tradicional da cidade onde ocorrem vários shows e que anima muito a cidade. Pelo visto não vou passar tédio por aqui! Fora os parques e a ferrovia, além da cachoeira na cidade ao lado.
Depois de muitos quilômetros e muito silêncio no carro, chegamos a bendita casa. Três quartos, sala, cozinha, dois banheiros, varanda... acho que não será tão ruim como pensei que seria. Mas algo na casa me traz arrepios. Ela tem um ar de antiga, talvez foi construída na época que Antônio Machado fundou a cidade, em 1821.
-Mãe, vou dar uma olhada na casa... já venho para ajudar a carregar.
-Garoto, é bom vir ajudar ou vou te encher de porrada! - Nervosa...
Andando ao redor da casa, tenho uma estranha sensação como se alguém estivesse me olhando. Então reparo que não há muito verde em volta da casa... a grama não está tão verde nesta parte da cidade, e as árvores estão secas... abaixo de uma dessas árvores, há uma espécie de escultura de pedra. Um tumulo? Talvez. Mas não foi o túmulo que me assustou, mas sim a aparição negra novamente.