Contos e Encontros Anormais - Capítulo III
O colégio havia sido fechado por uma semana devido ao suposto atentado que estourara os vidros do andar de baixo do Bloco 2 vitimando a diretora e a terrível morte da professora Fernanda. Todos estavam em suas casas, exceto por um aluno. Um curioso aluno, que não se contentara com o que já havia acontecido e que estava procurando por mais informações.
Os funcionários do colégio estavam reorganizando a escola para a volta às aulas. Enquanto isso, os vidros do Bloco 2 eram recolocados e o laboratório de informática arrombado era arrumado. Em circunstâncias normais, tais feitos demorariam meses para se concretizar, porém a grande mídia voltara seus olhos para o colégio e várias denúncias de negligência foram feitas. Quase que imediatamente, técnicos foram dispensados para arrumar a escola e deixá-la no mínimo usável novamente.
Heitor estava na segunda mesa da biblioteca Elis Regina, próxima à sua casa, com um grande livro em frente a si. Na capa, os dizeres "Estudo Aprofundado em Parapsicologia e Paranormalidade" estavam em letras garrafais sobre a simples capa preta do livro. Logo abaixo, constava o nome do autor com menos pavoneamento. Quarta seção, capítulo 20, tema 6: identificação de atividades paranormais, aparições e fenômenos extrassensoriais. Heitor olhava com profundo interesse as palavras do grande livro, estudando cada vírgula e cada ponto que parecessem interessantes. Então, finalmente, encontra o que estivera procurando.
"O aglomerado de espíritos, entidades ou demônios é denominado 'magote'. Um magote inteiro pode causar transformações físicas no local da aparição, bem como podem atentar contra a vida de animais e pessoas. As causas para o aparecimento de um magote são várias: desde rituais profanos, solo sagrado ou profanado até concentração de energias para um determinado fim.
Como exemplo atual e nem tanto moderno, cita-se o conhecido 'Jogo do Copo' ou 'Ouija', onde várias pessoas se reúnem para contatar espíritos, entidades ou demônios. Quando se reúnem para este fim, as pessoas, mesmo que sem conhecimento, concentram sua energia numa chave, que é representada pelo copo ou pelo marcador ouija, e procuram abrir um portal para estabelecer contato com outras energias. Mal sabem que tal ritual é propício e até mesmo um atalho para um caso de possessão.
Os indicadores de fenômenos paranormais incluem, se externamente, vento forte, barulhos estranhos, objetos inanimados que parecem se mexer, sensação de desequilíbrio emocional e térmico. Caso internamente, pode ocorrer barulhos anormais, lançamento de objetos vindos 'do nada', desequilíbrio emocional e térmico, sensação de observação, perda de movimentos, sensação de culpa e depressão entre outros.
Para identificar um caso de possessão, torna-se necessária a verificação de certos indícios físicos e psicológicos. Tremedeiras fortes e involuntárias nos membros, olhar perdido e desvanecido, pouco ou nenhum sono (o que pode ser verificado pela presença de olheiras profundas e cansaço), palavras desconexas e alterações bruscas na voz. Nesse caso, é sensato chamar um especialista no assunto que tenha autoridade para tratá-lo."
Heitor parou uns segundos para refletir sobre aquelas palavras. Então, levantou da cadeira e pediu o livro em empréstimo à secretária, sendo que após isso saiu a passos rápidos do local.