Pacto de Ódio - Capítulo II
-Traidores! – gritou o mestre – Todos vocês! Sabem o que pode acontecer com a mistura de raças, e ainda tentaram esconder a verdade de mim! Vocês desonraram o nosso clã! E você, Susan, é a principal culpada, pois instigou a sua família a esconder Lohane e o humano. Você era a melhor amiga daquela traidora, não tem como negar!
-Mestre, se pudermos fazer algo... – sussurrou o homem, sua esposa se moveu ao seu lado, trêmula.
-Não. Vocês não, meus caros amigos traidores – o líder caminhou lentamente até a menor silhueta entre os membros presentes, o garoto permaneceu inerte – Lucian... faz uma semana que você atingiu a maturidade como vampiro. Seus poderes começaram a fluir, não é mesmo? – o garoto não respondeu.
-Logo, o mestiço também fará quinze anos, no dia 13 do mês que vêm. E quero que você, meu caro Lucian, traga-o até mim, antes que nossos inimigos o encontrem. Vamos trancafiá-lo em nosso laboratório de pesquisas.
-Não, mestre, por favor... – implorou a mulher – nossos inimigos, por favor, não...
-Se você falhar - o mestre dirigiu-se ao garoto, ignorando a moça - mato sua família traidora. O que me diz Lucian?
O garoto levantou o rosto e encarou os olhos ônix e rutilantes do homem. todos a sua volta tremeram.
-Não vou decepcioná-lo, mestre.
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Uma luz dourada invadia todo o pátio florido, acima do sol e das estrelas, refletindo sob as águas límpidas de uma bela fonte de ouro, que o som de suas gotas compunham uma melodia calma e terna, capaz de acalma qualquer um. Qualquer um, menos Andrew.
O garoto andava apreensivo de um lado para o outro, fincando as mãos entre os cabelos anelados e curvando seu corpo para frente, arqueando junto, suas belas asas. Logo a frente um abismo, onde de hora em hora o garoto espiava sob as nuvens, soltando palavras desconexas na medida em que o tempo ia passando, tão tortuosamente rápido.
Quando um voz masculina e madura o despertou de seus devaneios, o anjo parou de falar sozinho e encarou o rapaz mais velho, com uma expressão nada feliz.
-Eu não quero ir, Ariel. Será que vocês não entendem? Eu quero ficar aqui... Por que não escolhem outro? – indagou o garoto, sua face ainda mais corada do que o normal.
-Tem que ser você, é o seu destino – o rapaz parou frente a Andrew, com um sorriso sereno nos lábios – Outros não farão com o mesmo êxito, que sei que você fará.
-Mas eu não quero, Ariel...
-Não está em questão o que você quer – enfatizou, sem soar rude, e logo em seguida disse - apenas faça-o.
O garoto suspirou derrotado.
-Vou ter que arrancá-las? – ele olhou pesaroso para suas branquíssimas asas.
-Infelizmente sim – o mais velho tocou a parte da asa mais próxima das costas do garoto – Mas quando você precisar, poderá usá-las... Esporadicamente, certo?
O anjo fechou os olhos e mordeu os lábios cor de cereja com força, quando, num movimento ágil o bastante, Ariel arrancou suas asas, desprendendo-as lentamente de suas costas, como quem rasga uma folha de papel. O garoto berrou de dor, e berrou ainda mais quando viu suas asas caindo ao chão, num som oco e vazio. Lágrimas escorriam de seus olhos, mas ao contrário do sangue em suas costas, elas não foram sugadas pela pele, e não sumiram como se nunca tivessem existido.
-Até breve – sussurrou Ariel, ao empurrar Andrew para dentro do abismo, vendo o garoto pouco a pouco sumindo entre as nuvens.
Você vai nascer numa família bastante conturbada, mas não se desvie do seu caminho, Andrew, você deverá encontrar o seu humano antes do dia 13 de outubro. Você tem 14 anos para encontrá-lo, e mesmo que as coisas se distorçam... nunca se esqueça de quem você é.
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Por onde passava, era seguido por olhares intrigados. Suas roupas inteiramente negras possuíam uma grande variedade de correntes, cruzes e metais. Os cabelos negros eram lisos na medida certa, e tão próximos da perfeição quanto sua pele, anormalmente pálida, seus lábios estranhamente vermelhos e seus olhos, perfeitamente verdes.
Lucian andava despreocupadamente pelo corredor daquela escola, com as mãos nos bolsos e fone nos ouvidos. Quando alguém ousava desperta-lo de seus preciosos devaneios, o garoto levantava sua mão cheia de anéis, e mostrava o dedo médio. Isso bastava.
Ele entrou na sala de aula, e como de costume, sentou na última cadeira, alheio a qualquer futilidade ao seu redor.
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Por onde passava, era seguido por olhares intrigados. Suas maças do rosto possuíam um tom naturalmente rosado, e as mechas aneladas de seu cabelo eram claríssimas e loiras. Sua boca também era rosada, e sempre munida de um sorriso terno agradável, tão sincero quando seus vívidos olhos azuis.
Andrew usava roupas simples e pouco chamativas, mas sua postura era elegante ao mesmo tempo em que despreocupada. Quando alguém ousava insultá-lo por algum motivo, ele sorria, sorria de um jeito tal que desmontava qualquer ofensa, e quem a proferia.
Ele entrou na nova sala de aula, ainda ausente de professor, e antes mesmo de pensar em qualquer coisa, seus olhos pousaram sob a criatura inerte que o encarava, com olhos tão vazios quanto o de um vampiro.
Os olhares se cruzaram ameaçadoramente, e mesmo jamais tendo se visto, eles se reconheceram de imediato. Lucian deixou seus lábios levemente entreabertos, apenas para que seus caninos pontudos ficassem a mostra, de forma ameaçadora. Andrew estreitou os olhos, sua sombra na parede expunha a forma perfeita de asas saindo de suas costas, arqueadas de forma defensiva.
Os humanos ao seu redor não percebiam a troca de olhares e as ameaças mentais que ambos trocavam, e se comportavam como se nenhum dos dois existissem – eles por sua vez, sabiam que os humanos também não tinham importância naquele momento.
Mas algo ali no meio fez com que ambos, vampyro e anjo, parassem de se encarar. Tão perto e tão longe um humano estava sentado, conversando animadamente com um amigo. A mestiça era pálido e tão belo como qualquer outro do clã.
O anjo se sentou ao seu lado, e o vampiro, às suas costas. Cada um pensava na maneira mais fácil de se aproximar da mestiça, mesmo que de maneiras completamente opostas.
-... então, classe, reúnam-se em duplas e resolvam os exercícios das páginas 50 a 65. Em silêncio, por favor – o professor de matemática dirigiu-se até a sua mesa e se sentou, absorto em seu livro de trigonometria.
Andrew e Lucian se levantaram no mesmo instante.
-Posso fazer com você? – sussurrou o garoto loiro para a mestiça, quando o vampiro havia aberto a boca para fazer a mesma pergunta.
-Claro – disse apenas. Com um sorriso vitorioso, o anjo sentou-se ao lado do garoto, sem deixar, é claro, de lançar um olhar zombeteiro para o vampiro que lhe praguejava mentalmente.
-Ahm, seu nome? – perguntou timidamente a garota, passando as mãos sob as mechas castanhas e lisas, que caiam nos olhos cor de mel, perdidos na face rosada do garoto a sua frente – que na sua opinião, era estranhamente semelhante aos anjos em cartões de Natal que via no orfanato.
-Andrew – ele disse, esbanjando aquele sorriso capaz de derreter até o inferno – E o seu?
-Lauren – respondeu, sentindo-se imensamente idiota por ter corado, e mais idiota ainda porque o outro riu da sua reação estúpida.
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Humana, alto estima meio baixo, sem muitas expectativas para o futuro, levemente tímida, sutilmente efeminada. Gosta de ler, colecionar cromos de álbuns de figurinhas e pôsteres de banda. Facilmente manipulável, não tem muitos amigos fixos.
Perfeito! Eu posso lidar facilmente com essa garota, contanto que "aquela" pessoa não se aproxime dela. Mas é claro que não vou deixar, vou colar nela que nem chiclete.