Fonte de Sangue - Capítulo 3
Vitor e Liliane estavam na cozinha, preparando o jantar da família. Carne refogada, arroz, feijão e salada de tomate. Para a sobremesa, uma salada de frutas com creme de leite. Seria o primeiro jantar da família, e tudo teria que ocorrer bem.
-Amor, pega o orégano e o alho para mim, por favor.
-Tome. Pensei que o sítio tinha caseiro! Não o vi até agora, mas acho que o nome dele é Bento, ou Júnior. Não me lembro bem.
Alguém bate à porta.
-Boa noite. Sou Bento, o caseiro. Vim ver se precisam de algo.
-Ah, oi. Não precisamos não, obrigado. Quer ficar para jantar?
-Não carece, dona. Meu trabalho é fica aqui fora, cuidando do sítio de vocês. Aproveitem o jantar, boa noite. E se me permitem o atrevimento, sugiro que não saiam durante a noite por aqui. O terreno é muito úmido, podem escorregar e se machucar. Até amanhã. - Disse Bento, saindo da porta e indo em direção a sua pequena casa.
-Que estranho esse rapaz. O que será que ele tem? - Disse Vitor.
Liliane fechou a porta e deu um beijo no marido.
-Não sei, querido. Talvez esteja apenas cansado. É noite, todos precisamos dormir. Agora, venham comer!
Já amanhecia quando aconteceu. Depois que acordou com muito frio, Liliane foi até o quintal e viu a cena horrorizada. Dinno, o cachorro do sítio, estava morto, com uma lança pequena no peito. Foi um choque para a jovem mulher, que, aos berros, chamou por Vitor, que socorreu-a. E o fato maior era que não havia sinal de sangue. Simplesmente morreu, mas sem derramar uma gota sequer de sangue no chão.
-E agora Vitor?! O que faremos!?
-Vamos enterrar o cachorro. Bento, pode me ajudar?
-Não podemos enterrar o cachorro aqui. Vamos levá-lo para o aterro, é mais seguro.
-Seguro? O que tem de mais aqui? - Perguntou Vitor, intrigado.
-Não é seguro remexer a terra. Há canos por todos os lados, inclusive debaixo da grama. Podemos pegar em um e ele estourar. Eu levo o cachorro até o aterro, não se preocupem. - Dito isso, Bento pegou um saco de lixo, colocou o cachorro e o pôs no carro, sumindo de vista após virar a esquina.
-Amor, não gosto deste lugar. - Disse Liliane, se abraçando ao marido.
-Não é nada, apenas começamos errado. Vamos assistir um pouco de televisão, assistir a um bom filme e tudo isso vai passar. É só esperar e aproveitar o dia.
No quarto de Bianca...
-Ai Mi, estou tão cansada! Não queria vir pra cá, não tem nada pra fazer! Fora esse cachorro morto que me dá calafrios cada vez que lembro dele!
-Já sei o que podemos fazer! Já ouviu falar da brincadeira do Chamado das Sete Chaves?
-O que é isso?
-Bom, pegue sete objetos quaisquer. Deixa ver... aqui! Uma caneta, um lápis, um caderno, um livro, um espelhinho, uma escova e um pincel de maquiagem. Funciona assim: você pega um papel, escreve o que quer saber, dobra e coloca no chão. Depois, você pega uma chave, que seria um desses objetos e diz assim. "Pelo poder da primeira chave, eu quero saber qual a resposta para o que está escrito neste papel!". Simples!
-Eai, o que acontece?
-Dizem que aparece uma letra diferente da sua embaixo de sua pergunta, e essa seria a resposta. Vamos tentar?
-Hum, gostei! Vamos!
Bianca pegou um pedaço de papel, e escreveu.
-Certo, agora coloque no chão, pegue a caneta e repita a frase.
-Pelo poder da primeira chave, eu quero saber qual a resposta para o que está escrito neste papel!
Um vento invadiu o quarto, e remexeu o papel. Ambas ficaram assustadas com aquilo, e se olharam.
-O que foi isso? - Disse Bianca.
-Não sei. Ande, veja se sua pergunta foi respondida!
-Foi!
-O que perguntou?
-Se o Lucas gosta de mim!
-E o que apareceu?
-Que sim! Sua vez agora!
Michelle escreveu no papel, colocou-o no chão, pegou o lápis e repetiu a frase.
-Pelo poder da segunda chave, eu quero saber qual a resposta para o que está escrito neste papel!
Novamente, um vento estranho remexeu o papel e a resposta apareceu.
-O que perguntou?
-Se vou ganhar um celular rosa de natal! E respondeu que sim!
Durante vários minutos, as meninas ficaram brincando de saber se os meninos que elas gostavam, também gostavam delas. Porém, no último papel, algo deu errado.
-Que estranho, por que não funcionou? - Disse Michelle.
-Não sei. Você reparou que todas as perguntas foram positivas? Não teve nada que nos deixasse tristes...
-Sim, é estranho. E se a gente perguntasse quem matou o cachorro?
-Não sei não...
-Anda Bianca, não custa nada!
-Está bem.
Bianca pegou o papel e escreveu quem havia matado o animal. Colocou-o no chão e repetiu a frase já conhecida, com o pincel de maquiagem.
-Pelo poder da sétima chave, eu quero saber qual a resposta para o que está escrito neste papel!
Um vento mais forte que os outros remexeu o quarto, fez alguns papeis voares e o pequeno papel no chão rodopiar. Após isso, Michelle pegou o papel do chão, e leu-o.
-Que estranho...
-O que diz?
-Espelho.
-Como?
-Espelho. Só diz isso, e fora a pergunta, não há mais nada.
-Será que a resposta está no espelho?
Neste momento, as duas olharam pelo cômodo, mas não encontraram nenhum espelho. Após procurarem um pouco, acharam um espelho atrás do guarda-roupas. Puxaram-no, pois era um espelho grande de chão, e tiraram o lençol branco que o cobria. Um espelho grande, empoeirado, se mostrou para as garotas. Nem de longe era novo.
-Que espelho esquisito... é lindo, entalhado, madeira boa mas muito esquisito!
-Olhe aqui atrás! Tem algo escrito... diz Coronel Machado Figueredo. Quem será? - Disse Michelle.
-Não faço a mínima ideia. Provavelmente o dono do espelho.
Quando olharam para o espelho, se assombraram. Uma forma branca translúcida se projetou no espelho, em forma de militar.
-Vão... embora! Vão... embora! Vão... embora! - Disse o fantasma.
As dua garotas começaram a gritar, saíram do quarto e se encontraram com Vitor no corredor.
-Pai, socorro!
-O que aconteceu? Por que estão gritando?
-Te-tem um fa-fantasma no espe-pelho! - Disse Michelle, gaguejando.
-Fantasma? Garotas, estão de brincadeira? Por que se estiverem, eu...
-Não pai! Não estamos brincando! Venha ver!
Bianca levou o pai até o quarto.
-Viram? Não tem nada! Hum... andaram mexendo na parede?
-Não, por que? - Falou Michelle.
-Está lascada... parece que tem algo escrito aqui...
Com as unhas, Vitor tirou mais uma lasca da parede, que revelou um nome e uma data.
-"Mansão Elizabeth Figueredo. 15/05/1812". O que significa isso? Quer saber, vou tirar essa história a limpo!