O Lago das Lágrimas - Capítulo 1
-Pedro, quanto tempo falta para chegarmos a Gínia?
-Não sei, Lívia. Talvez duas horas, ou mais. - Falei.
-Estou cansada. Você acha que essa cidade será boa mesmo?
-Estou apostando nisso. Quando o senhor Tavares me ofereceu esse emprego, logo disse que eu teria que me mudar para esta cidade. Acredite, nossa vida será melhor e mais feliz, principalmente quando Hugo nascer. – Falei, pondo a mão na barriga de minha mulher. Grávida aos sete meses, não vejo a hora de meu primeiro filho nascer.
-Aposto que será. Oh, veja! Uma placa indicando que falta 80 quilômetros para chegar à cidade. Graças a Deus, preciso esticar as pernas!
-Eu também. Não aguento mais dirigir.
Fiquei mais uma hora dirigindo, até que chegamos à cidade. Estava nublado, não havia ninguém nas ruas, porém o comércio estava aberto. Uma loja de calçados, duas ou três lanchonetes, um mercado bem simpático e simples. Nada de mais. Porém, a arquitetura das casas era muito bonita. Tudo construído com o melhor material possível, e nas ruas nada de vandalismos. Praças impecáveis e floridas, árvores bem cuidadas, edifícios públicos totalmente limpos. Não poderia ser melhor, a não ser por uma parte da cidade que era muito desvalorizada. Árvores sem folha, plantas mortas ou morrendo. O contraste é absolutamente incrível.
-Amor, onde ficaremos? Preciso descansar um pouco, e quero ir ao banheiro.
-Nossa casa é aquela ali, amarela. Linda, não?
-Realmente, muito linda.
Estacionei o carro na única vaga da garagem e Lívia desceu. Na caixa de correio, uma carta do Senhor Tavares me dando boas vindas, além de um cartão de crédito e um mapa da cidade. Meu trabalho era simples: abrir a loja conveniada da Holson & Helson Construções e contratar o pessoal. Depois disso, esta cidade cresceria muito, com bancos, mercados internacionais, clubes de férias e principalmente com o Resort Vale Longo, que seria construído totalmente com a ajuda da Holson & Helson, a firma onde trabalho. Meu salário certamente seria triplicado, se não quadruplicado. Eis que, arrumando as coisas no guarda roupas, a campainha toca.
-Senhor Pedro Diniz?
-Eu mesmo. Pois não?
-Sou Jonatas, fui contratado pelo senhor Tavares para lhe ajudar nesta fase de mudança. Certamente precisa de ajuda para que eu o guie pela cidade, ou lhe mostre algo sobre o que vai acontecer.
-Na realidade, preciso. Entre, parece que vai chover.
-Chover? Por aqui não tem chuva. Chamamos de tormenta o que acontece por aqui. Normalmente, a “chuva” é acompanhada de ventos muito fortes, raios e costuma durar vários dias. Já vi uma chuva durando doze dias sem parar nem um minuto! Nesse tempo, ninguém saiu de casa, pois se alguém abrisse o guarda-chuva, era capaz de voar!
-Não duvido. Me diga Jonatas, onde será construído o Resort Vale Longo?
Tirando um mapa de dentro de uma pasta, Jonatas me mostrou onde seria construído o tal Resort.