O Lago das Lágrimas - Capítulo Final
-Todos prontos?
-Sim, vamos logo antes que comece a chover. – Disse Júlio. –
Sabe Pedro, quando falou desta mina, pensei que ia falar da...
-Não é história. É realidade. Meu avô trabalhou nesta mina e
disse que a viu várias e várias vezes.
-Viu o que? Cuidado com esta parte, o chão é feito de
madeira e...
Nesta hora, a madeira do chão racha, e despenco do que
parece ser dois metros. Era a parte de baixo da mina, que foi tapada por
grossas tábuas de madeira, porém estavam podres.
-Ai! Meu braço! Acho que quebrei meu braço!
-Pedro, não se mexa, estou chamando ajuda!
-Isso não é bom sinal... ela não nos quer aqui. Isso foi um
aviso!
-Cala a boca, Júlio! Ela não existe! – Disse Felipe.
-Do que você estão falando?! Chamem alguém para me ajudar!
-É a Mãe do Ouro, Pedro! Ela quer você! Você invadiu a casa
dela!
-Pelo amor de Deus, isso não existe! Essa mina está
abandonada, não há ninguém aqui!
-A Mãe do Ouro não é uma ninguém. Ela não é “quem”, é “o
que”. E graças a você, estamos perdidos!
Depois que Júlio terminou de falar, ouvi gritos. Pedidos de
ajuda, de misericórdia. Depois de um tempo, o silêncio. Estavam todos mortos.
Sangue caía feito uma cachoeira da abertura que havia no teto da mina, pelo
qual caí.
-Meu Deus! Socorro! Vocês estão aí?! Respondam!
Silêncio. Então, ouço uma voz doce e suave.
-Venha, venha, meu querido... venha, venha disfrutar! Venha,
venha, não tem riscos... agora eu vou te levar!
-Que-quem está aí?!
-Venha, meu querido. Não tenha medo! Não é riqueza que você
quer? Eu posso te dar toda essa riqueza e muito mais...
Então, uma mulher aparece a alguns metro a minha frente. Os
cabelos dela são compridos e da cor do ouro. Sua pele é lisa, e suave como a
seda.
-Pedro... eu tenho a riqueza que procuras! Basta apenas vir
comigo... e terás tudo que quiser!
-Quem é você?
-Sou a Mãe do Ouro, Pedro. Durante décadas, meu marido
trabalhou nesta mina, buscando ouro. Um certo dia, ele achou uma pedra de ouro
grande. Estávamos ricos, materialmente. Alguns dias depois, descobri que ele
estava me traindo. Então, vim até a mina e matei todos. Durante dias, chorei.
Durante semanas, meses e anos, chorei. De tanto chorar, minha tristeza adquiriu
tal forma que se tornou um lago. Um lago de lágrimas.
Saindo da frente, pude ver um lago, não muito grande. No
meio dele, uma pedra reluzente, grande o suficiente para dar uma pequena
fortuna. Era ouro. O tal ouro que o marido achou.
-Gostou? Tudo que você tem que fazer, é pegar a pedra, e ela
será sua. Somente isso.
-Não vou me entregar a você. Não posso!
-Pode sim. Não só pode com vai. Está vendo isso? São ossos.
Lindos ossos da minha coleção. Todos que se opuseram a mim, viraram ossos! –
Disse a assombração, me mostrando ossos cravados nas paredes. – Quer se juntar
a eles?
-Não. Mas não quero isso para mim! Não, não quero!
-Dinheiro! Tudo gira em torno do dinheiro!
-Não, por favor!
-Riqueza, você quer ser rico e será!!!
-Não quero sua riqueza! Só quero minha família!
-Família?! Você não liga para a família!! Você só liga para
o dinheiro, se vai ganhar mais ou menos, se vai ser demitido, se vai comprar
uma casa nova! É o dinheiro! Você quer dinheiro! Pegue a pedra!
Não consigo. Não posso mais resistir. Ela é linda, deve
valer muito... eu preciso. Não. Eu quero. Eu quero dinheiro.
-Decida-se ou junte-se aos outros!
A mulher começou a se desfigurar. Seu rosto, uma hora liso
como seda, ficou enrugado. Seus olhos penetrantes se tornaram negros como a
escuridão. Ouvi um grito e a assombração se desfigurou totalmente.
-Pegue a pedra ou morra! Entre no
lago! Entre no lago da morte, da destruição e da miséria... entre no lago das
lágrimas!
-Eu tenho que entrar... eu preciso entrar.
Eis que entro na água. Ela era gelada e rasa. Meu objetivo é
pegar a pedra. Serei rico. Então, escuto uma voz que não estava por perto.
-Pedro? Pedro! Não, não faça isso!
-Lívia...
-Chegou tarde de mais! Agora, ele é meu! – Disse a Mãe do
Ouro. – Nada que você possa fazer poderá tira-lo de mim!
-Cala a boca! Pedro, pense em nosso filho! Ele vai nascer, vai
crescer e seremos felizes! Pedro, volte para mim!
-Lívia, meu amor...
Nesse instante, o lago antes raso se torna fundo. Tão profundo
quanto a tristeza. Então, Lívia vem em meu encontro e pega em minha mão.
-Não vou te abandonar. Jamais. Meu amor por você e por nosso
filho é grande demais para eu te abandonar. Não me deixe, Pedro. Não me deixe!
Somente a força do verdadeiro amor pode nos tirar da
profunda tristeza. Somente o amor pode nos salvar de nós mesmos, de nossa
ganância, de nossa avareza e de nossa inveja.
-Não vou te abandonar, Lívia! Jamais vou te abandonar!
-Vocês dois são insolentes! Invadiram meu templo e se
recusam a atender meu pedido! Vocês devem morrer! – Então, o demônio veio para
cima de nós com suas garras, porém não conseguiu nos atingir. – O que?! Não
posso tocá-los! O que é isso?!!? Eu não consigo matá-los! Não é possível!
-Tudo é possível se você tem amor no coração! – Disse Lívia,
me abraçando.
-Não!!! Não, vocês me pagam! Vocês vão me pagar!
Finalmente acabou. A criatura sumiu, finalmente. Tudo
acabou, e agora viveremos em paz. O lago? Secou, pois a tristeza acabou. A
pedra sumiu, era apenas uma ilusão. A ilusão que aquela pedra valia mais que
minha família desapareceu. Era apenas uma ilusão. Nem todo o ouro do mundo
poderia me deixar sem minha família, sem meu amor. O dinheiro não pode ser mais
importante do que isso. Errei. Fui ganancioso e avarento demais. Eu quis mais
do que precisava. E não irei cometer o mesmo erro novamente. Daqui pra frente,
somente alegria ao lado de minha mulher. Nada de tristeza, apatia nem erros.
Somente a felicidade. Fico feliz em dizer, que daqui pra frente, nada de choro,
nada de lágrimas.