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Passado Sangrento

Passado Sangrento - Capítulo I

“Os sonhos, que têm muito para nos ensinar acerca da natureza da alma, retratam por vezes as muitas formas que temos de estar ligados ao passado. (...) Na vida exterior, podemos deixar uma pessoa ou um lugar mas, na memória e nos sonhos, a alma agarra-se a essas ligações passadas." Thomas Moore – Em busca da Alma Gêmea.

Darkmoon fora imaginosamente derrotado. Fora um inimigo brutal, muito mais do que uma alucinação, um pesadelo ou uma ameaça espectral. Uma sombra perversa que acompanhou aquelas duas “almas” durante cento e noventa anos. Foi o responsável pelas suas derrotas, mas também, pelos seus êxitos. Afinal, ele manteve-os vivos para que as suas vidas, apenas a “ele” pertencessem. Só Assim poderia pôr fim à sua longa e espinhosa caminhada: vingar a sua morte e retornar à vida. Darkmoon estava finalmente morto! Ricardo e Acácio Trigueiro ficaram para sempre unidos pelo condão mágico da vida: A amizade.

Acácio Trigueiro temia em deixar de respirar para sempre. Estava já a ficar sem visão e as suas pernas badalavam, enquanto aquela garra lhe comprimia a vulnerável veia jugular, não exibindo vontade de afrouxar.

Acácio não tinha hipóteses de altercar. Conhecia o opositor. Já o tinha defrontado há cento e noventa anos atrás. Derrotara-o, é certo, mas agora ele estava mais forte, mais eficaz e regressara com uma voraz sede de vingança.

-Onde está ele? – Berrou o ser hediondo.

Em sufoco, Acácio tentou responder, mas não conseguia sequer respirar. Sentiu, por breves momentos um alívio na sua garganta, mas ainda assim, continuava sufocado.

-Diz-me!... Onde está? – Insistiu a “coisa”.

-Não sei, imbecil! - Respondeu ele com dificuldade.

-Então morre, “Albuquerque”! – Roncou, arrojando a cabeça do velho Acácio contra uma lápide, deixando-o imobilizado no chão, a esvair-se em sangue. A criatura distanciou-se vagarosamente do local. Galgou para o seu imponente cavalo e partiu a galope, afastando-se rapidamente, largando um rasto de poeira que se confundiu com o nevoeiro denso e úmido que se abatera na noite. Era um ser sinistro. Estava mais assustador do que nunca. O velho Acácio não queria acreditar no que lhe estava a acontecer. Ainda tombado no chão, sentiu-se a desfalecer. Reviu a sua vida a trespassar-lhe a memória. Recordou-se dos seus filhos, ainda crianças; lembrou-se do seu casamento. Fixou o olhar na lápide da sua defunta e amada Filomena. Depois reviveu a sua juventude a bordo do submarino Albacora, onde navegara inúmeras vezes, e combatera durante a guerra Colonial, como 1º sargento.

Como vou fazer para encontrá-lo antes da coisa? - pensou.
Teria de ser mais inteligente. Deixaria que a sua alma o guiasse e conduzisse até aquele inocente que vivia o seu dia-a-dia sem imaginar o “mal” que agora o procurava.

Enquanto pensava nisto, Acácio reuniu forças para se levantar. Segurou-se à lápide onde jazia a sua eterna amada e pôs-se de pé. Sangrava abundantemente do flanco esquerdo da cabeça. Olhou em redor e examinou o ambiente sinistro que o cemitério emanava. As cores do crepúsculo tinham sido rendidas por uma lua tenebrosa, e a noite parecia mais escura do que nunca. Escutou o ribombar de um trovão e aguardou que o refrigério da chuva lhe acariciasse o rosto velho.

Cambaleante, com a sua longa gabardina despregada ao vento, Acácio parecia um “zombie” a escapar de um jazigo. De facto, ele era isso mesmo: um ser moribundo, entre a estreita linha que separa a vida da morte. - Vou encontrá-lo, antes “dele”! – Jurou em voz alta, enquanto procurava um portão para abandonar aquele local medonho.

A manhã despertara pálida e chuvosa. O ambiente na escola secundária das “Cavaquinhas” estava agitado. Os alunos faziam greve, reivindicando melhores condições nas salas de aulas, onde chovia sempre durante o inverno. Seguidamente, os ânimos exaltaram-se, e a policia começou a “aconchegar” alguns alunos mais atiçados, o que fez com que Ricardo Gonçalves abandonasse o local, e voltasse para casa a fim de evitar confusões.

As aulas tinham começado há pouco mais de um mês, mas Ricardo já estava enfadado da escola, dos professores e até da sua própria turma. Órfão de pais, vivia no Seixal com os seus Tios, José e Magda. Sobrevivera a um violento acidente de viação quando tinha nove meses. Não se lembrava de nada, mas sabia que tinha sido dessa forma trágica que os seus pais tinham falecido.

Ricardo seguiu a pé até casa, pois esta distava apenas um quilômetro da escola. Caminhou, aparentando ser um rapaz alegre, mas na realidade, não era. Por vezes, ficava tenso e sombrio. Especialmente, quando era atormentado por pesadelos. Não eram pesadelos vulgares. Acordava sempre muito confuso, sem saber o que tinha acabado de sonhar. Depois permanecia alguns minutos a tentar diferençar o que era sonho e o que era realidade. Durante o dia, esforçava-se por não pensar nos pesadelos que o atormentava de noite.

Olhou em várias direções antes de atravessar a estrada, mas logo que lhe pôs o pé, foi surpreendido por um ronco de um carro acelerado, que surgiu logo a seguir à curva. Para surpresa dele, a viatura deteve-se mesmo à sua frente.

Ricardo olhou de soslaio, e a sua mente criativa fê-lo imaginar se aquele individuo não seria um agente do “SIS” (Serviço de Informação e Segurança), que andava a seguir os manifestantes para os identificarem, e seguidamente, prenderem. O jovem estudante sentiu-se pouco à vontade e sem reação, mas ainda teve tempo de observar a viatura que o seguira. Era um “Mercedes” preto. Fixou também o rosto do condutor. Tinha uma fronte velha, um rosto barbudo e usava um boné preto. O estranho fumegou o seu cachimbo de “roseira brava”e fixou-o com um ar ameaçador. Depois arrancou com o carro numa velocidade moderada, abandonando a rua subtilmente. Confuso, sentou-se no passeio; respirou profundamente e visualizou mentalmente, o rosto do homem, mas pareceu-lhe estranhamente inofensivo. Decidiu ignorar o incidente e voltar para casa.

Quando chegou à residência, Ricardo fitou a sua tia Magda no exterior do quintal a borrifar as sebes ornamentadas com cameleira.

-Olá Tia. Estou um pouco cansado. Vou pró meu quarto. – Disse vagamente.

Arremessou a sua mochila para o canto e caiu estatelado na cama. Olhou para o teto, e ainda matutou durante algumas horas no que lhe acontecera, mas sentia-se tão extenuado que acabou por adormecer. A acalmia da noite fora interrompida pelo latir de um cão. Não era um ladrar normal, algo se passava lá fora. Levantou-se apavorado, ficando na dúvida, se devia descer ou ficar protegido e resguardado no seu quarto. Algo invadira a casa. Não era alguém, era “algo”. Susteve a respiração durante alguns segundos para poder escutar melhor o que estava a acontecer. Pareceu-lhe ouvir um arrastar pesado. Aproximava-se vagarosamente do seu quarto e vinha matá-lo. Decidiu fugir. Era a única solução que lhe restava. Abriu a janela, galgou o parapeito e saltou para a cobertura onde balouçou, tentando obter algum equilíbrio. Tomado pelo terror, tomou balanço e saltou para o chão. Era uma queda de três metros, mas se aquela “coisa” o apanhasse, certamente seria bem pior.
Caiu no chão duro e sentiu o tornozelo estalar. Conseguiu levantar-se e afastou-se, penetrando no pinhal que se estendia atrás da sua casa.

Ricardo correu até não poder mais. Estava ofegante e exausto, pois já não tinha fôlego. Decidiu parar. Ouviu Dingo (o seu cão e amigo) a ladrar. O latido fora interrompido por um ganido agudo e doloroso. Aquela coisa tinha esquartejado o pobre Dingo. Fez-se um silêncio de morte, e apenas o rumorejar do vento arrefecido entre as vinhas espessas, mantinha desperto o silêncio da noite. Nem os excêntricos espantalhos que guardavam a plantação se moviam. Pareciam ter horror do que se aproximava. Já não restava fôlego nem forças ao pequeno para se mover. O seu tornozelo também não suportava mais. Começou a arrastar-se, fazendo impulsão com os braços, puxando o resto do corpo para a frente. Os caniçais começaram a mover-se. Algo caminhava na sua direção. Acolheu uns pingos úmidos na testa. Começou a chover imaginou; Olhou para cima e gelou-lhe o sangue ao avistar a criatura monstruosa que o contemplava, encharcada em algas e empastada com musgos lamacentos. O ser agarrou-o pelo pescoço com violência, e ergueu-o até ao nível da sua face desfigurada. Quando Ricardo olhou de frente para o opositor, soltou um grito gutural de terror.

-Ricardo, Ricardo! – Era a tia Magda quem o abanava bruscamente – Você tava tendo um pesadelo, meu querido. Calma!

-Tia Magda!... Que pesadelo horrível! – Balbuciou ele, enquanto despertava confuso e amedrontado.

Passou a mão pelo cabelo e pela testa; estava alagado em suor; tentou recordar-se do pesadelo e do rosto daquela coisa, mas rapidamente a imagem fugiu-lhe.