A Ultima Casa da Rua - Capítulo 6
Os pais de Carrel tinham uma situação confortável, porém Lucy era uma mulher segura com o dinheiro e, além do mais, não gostava de Marianne. A mãe de Carrel deu logo um jeito de tirá-los de sua casa. Era uma mulher tão ruim, que não cedeu aos apelos do seu filho, pedindo que visse o estado de Marianne que estava grávida de oito meses.
Dias depois, Marianne limpava a entrada da pequena quitinete que Carrel conseguira, após pedir um empréstimo ao seu pai. Ao olhar para umas caixas no lixo da casa ao lado, um livro, em especial, chamou-lhe a atenção. Chamava-se BÍBLIA DO DIABO. Ela, disfarçadamente, pegou o livro e entrou na quitinete. Ela leu a tal Bíblia em três dias, sempre escondido de Carrel, ela ficava com medo da reação dele.
Marianne estava convicta do que queria: queria fazer um pacto. O pacto foi feito durante a volta de Marianne da casa dos seus tios, na cidade de Still Ville. Em 1980, Marianne e Carrel ainda moravam em Atlantic City, ao descer da velha caminhonete que dirigia, um homem alto com roupas pretas e chapéu, aproximou-se e conversou com Marianne. A resposta dela foi sim. O pacto estava quase feito e o preço era o seu filho. O primeiro sacrifício.
Após o nascimento do seu filho, Marianne saiu à noite com ele no colo e foi até uma encruzilhada próximo da quitinete que morava com Carrel. Já era de madrugada. O homem do pacto estava lá. Marianne entregou o seu único filho para ele. O pacto estava feito. Tudo aquilo que Marianne havia pedido seria concedido. Dinheiro, sucesso, felicidade e proteção. O símbolo escolhido para os sacrifícios seria o pentagrama invertido e a cruz invertida. Símbolo do satanismo.
Marianne trouxe de volta o corpo do seu filho, porém agora sem vida. O demônio havia levado a alma do seu filho. Carrel ficou mau durante vários dias. Até hoje não se conforma com a morte prematura do seu filho. Ainda mais depois que soube os reais motivos. Antes de saber que sua mulher fizera um pacto com o demônio, a tia de Marianne, Suzan Thompson, havia descoberto o que ela fizera e a ameaçou a contar a Carrel. Marianne fora até a encruzilhada e pediu proteção ao seu deus.
Aquela havia sido a última noite em família. Michel Thompson e sua esposa, Suzan Thompson, colocaram seus três filhos para dormir e foram para sala. Passado alguns minutos depois, algo estranho tomou conta do ambiente. O quente e aconchegante lar, de repente ficou sombrio e tenso. Algo possuíra Michel, fazendo-o pegar uma faca-peixeira e assassinar a esposa e, em seguida, ir até o quarto dos seus filhos e fazer a mesma coisa com eles. Os golpes foram no coração e na garganta. Todos morreram na hora. Logo após, Michel, possuído, cortou os pulsos, suicidando-se. O mistério até hoje nunca fora solucionado. Os verdadeiros motivos nunca foram encontrados. Só Marianne sabia.
Meses depois Carrel e Marianne compram uma casa em Still Ville e resolvem passar o resto de suas vidas na pacata cidade. Sempre que precisava de proteção, Marianne recorria ao seu deus. Mas, sempre depois o sacrifício deveria ser feito para satisfazer a sede do seu deus. Antes o quarto da sua casa era o local escolhido para a realização dos sacrifícios. Tempos depois o seu deus pediu um local maior, então Marianne escolheu a antiga casa dos seus tios, a última casa da rua.
— Vocês já viram ou seguraram alguma arma antes? — perguntou Carrel aos garotos.
Os três estavam na garagem da casa esperando Carrel pegar algumas “ferramentas”.
— Bem, eu já tive uma... de brinquedo. — disse Andersen.
— Eu também, a minha era uma grande, tinha uma... — falava Adam, quando Andersen o interrompeu.
— O.k., Adam, já entendemos. Ou seja, em uma arma de verdade nunca pegamos. — disse Andersen.
— Hum... o que vamos fazer agora? — disse Carrel.
— Bem, acho que não tem muita diferença, não é? — perguntou Adam.
— Claro que tem diferença! — disse Carrel. — Mas, infelizmente, vamos ter que arriscar. Não posso com quatro pessoas ou mais.
— Então tudo bem. — falou Andersen.
Carrel deu uma arma para cada um e ficou com outras duas de calibre 12.
— Só mais uma coisa. Vocês vão encontrar mais pessoas presas lá. O sacrifício dessa noite é grande, então cuidado em quem atirar. — alertou-os Carrel.
— Mais pessoas? Quem são? — perguntou Andersen.
— Não sei ainda. Saberemos na hora. Vamos lá. — disse Carrel.
Os três entraram no carro de Carrel e foram até a última casa da rua. A antiga casa dos Thompson. A casa dos sacrifícios.
* * *
Em pé atrás do tenebroso altar, Marianne segurava um grande punhal, bem diferente dos atirados pelos assassinos anteriormente. Ela agora usava uma manta preta, cobrindo dos ombros até os tornozelos. Marianne abriu a Bíblia satânica que estava sobre a mesa e começou a ler algumas declarações satânicas empunhando o punhal para o alto:
— Satanás representa a licenciosidade, em vez da abstinência e autocontrole; Satanás representa a existência vital, em vez de sonhos espirituais ilusórios; Satanás representa a sabedoria, em vez de auto-engano hipócrita; Satanás representa bondade aos que a merecem, em vez de amor desperdiçado com ingratos; Satanás representa a vingança, e não o oferecimento da outra face; Satanás representa responsabilidade para como os responsáveis; Satanás tem sido o melhor amigo que a igreja já teve, visto que ele a tem mantido ativa durante todos esses anos. — dizia Marianne, gargalhando em seguida.
Os três mascarados estavam um ao lado do outro próximo a escada que dava acesso ao porão da casa, local em que estavam. Após as declarações de Marianne os três falavam em coro: “Satanás”, repentinas vezes.
Aquelas palavras soavam como agulhas nos corações dos que estavam presos. Só Mary e Josh, umas das mais machucadas, estavam desacordadas. Emett, que estava com as pernas praticamente esmagadas, gritava tanto de dor, que Marianne ordenara aos seus subordinados ou fiéis que o amordaçasse. As lágrimas no rosto de John se misturavam o sangue que jorrava de seu pé, lágrimas de dor e, sobretudo, medo. July soluçava de tanto chorar, aquela invocação tinha sido o pingo d’água para o seu pranto.
— Quem é você, sua doente? O que quer com a gente? — perguntou John, ferozmente.
Estava muito escuro o local, o rosto de Marianne não era visível.
— Sou aquela que dará a vocês o melhor presente da suas vidas. A eternidade com o melhor e mais justo senhor de todos: Satanás! — falava Marianne.
— Você está louca? Deixe-nos ir embora, agora! — ordenou John.
— Você não manda aqui, fedelho. Cale a boca ou eu mesmo calo.
— Eu quero a minha mãe! — gritou Michele, desesperada e chorando bastante.
— Você nunca mais verá a sua mãe, pelo menos nesta vida, mas quem sabe na próxima. — falou Marianne.
— Porque está fazendo isso com a gente, Sra. Wilson? — perguntou July.
Todos os presos arregalaram os olhos. O nome Sra. Wilson soava estranho. Ninguém ali imaginava que a “doce” e simpática senhora faria tal coisa.
— Sra. Wilson? — perguntou John. — É a senhora mesmo que está fazendo isso com a gente? Não posso acreditar.
— Sim, querido, sou eu mesma. Marianne Wilson, aquela que lhes dará a vida eterna ao lado do meu mestre, Satanás.
Todos ficaram em silêncio. As lágrimas escorreram nos seus rostos.