A Coisa Malígna - Capítulo 4
Dora não queria acreditar, mas era inevitável. Ela tinha feito isso tudo! A morte o senhor Jenkins despertara suspeitas entre assassinato, latrocínio e execução. Mas quem iria assassinar um homem tão humilde, tão gentil para com as pessoas? E quem roubaria os velhos livros empoeirados e roubaria o pouco dinheiro que havia em sua caixa registradora? Ou pior, quem seria capaz de executar um pobre homem, que não devia nada a ninguém?
Nenhuma situação proposta pela polícia fazia sentido, mesmo por que para haver latrocínio, não deveria ter dinheiro na caixa registradora, e havia R$ 110 nela. Assassinato era pouco provável, pois nada foi ouvido, e não havia ferimento de bala ou algo perfuro-cortante em seu corpo velho e frágil. A unica proposta que, com muito esforço poderia fazer sentido, era a da execução. O esforço nem era tanto para Dora, pois ela já havia pensado no assunto, e presumira que era em parte culpa sua... restava descobrir a causa, ou melhor, o que teria matado especificamente o senhor Jenkins. Ele tomava pílulas para o coração, a sua unica doença, e então poderia ser facilmente trocadas por qualquer remédio que causasse um ataque no pobre coitado...
-Está na hora de tomar uma atitude. Se eu fui a causadora disso, preciso acabar logo com o problema! Vou voltar agora mesmo para o centro, investigar isso por minha própria conta!
Isso poderia ser realmente perigoso, mas era preciso e nada poderia detê-la.
21:00. Dora estava parada diante da pequena loja, cercada por faixas amarelas com dizeres de "Afaste-se, cena de crime", mas isso não seria uma barreira para ela. Em poucos segundos, desvencilhou-se do emaranhado de faixas, e entrou na loja. O primeiro canto que ela se dirigiu foi para a pequena sala que estava atrás do balcão do defunto. Eis que, olhando para o alto de uma prateleira, ela visualiza um remédio. Mais precisamente, era o Candesartan cilexetil, um medicamento do tipo antagonista do receptor da angiotensina. Sua principal indicação é para tratamento de Hipertensão arterial.
-Então quer dizer que o velho tomava um remédio para pressão! Nossa, que estranho! - Disse Dora, abrindo a caixa com o medicamento. - Há espaço para 30 comprimidos, sendo que o coroa já tomou 8 deles... aqui diz que é para se tomar 4 por dias, então ele comprou há exatamente 2 dias, na FarmPlus, aqui na cidade... - Bancando a detetive, que por sinal já descobrira algumas informações supérfluas porém iniciais, resolveu que se descobrisse quem vendera o medicamento ao senhor Jenkins poderia iniciar uma lista de suspeitos. Depois desse pensamento, descobriu algo que não estava de acordo com o que poderia se dizer "normal". - Espere um pouco! Há ainda 22 comprimidos, mas há algo errado, pois 21 deles são brancos, mas há apenas um de cor
verde do mesmo tamanho que os outros, porém com uma espécie de entalhe que diz Cortisona... caramba! Isso está errado, pois é um coticóide, que aumenta a pressão arterial... mas o que ele estaria fazendo numa cartela de Candesartan, que é para abaixar a pressão? Seguindo a linha com que os medicamentos eram tomados, ele teria de tomar este verde amanhã, porém aposto que havia dois comprimidos de Cortisona, não somente um, e também aposto que esse foi o último remédio que tomou antes de sua morte. Ele foi assassinado com o medicamento que garantia sua vida.
