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    O Sanatório de Waverly Hills
    Um grupo de estudantes de paranormalidade resolve explorar o sanatório mais assombrado do mundo. Você tem coragem para ver o que aconteceu a eles? Leia Mais...
  • Stop Motion
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    Apenas um desenho...
    Até que ponto um simples desenho é inocente? Existem coisas macabras no mundo, e este vídeo certamente é uma dessas coisas. Confira! Leia Mais...

Infância Corrompida

Infância Corrompida - Parte 5

Stephen dormia, mas a única coisa que indicava isso era seu peito que subia e descia e o monitor cardíaco que fazia um pi pi que deixava o quarto sob uma atmosfera de tensão. Para Emily, ele podia estar adormecido em um sonho eterno do qual ele não podia fugir. O sonho se tratava das chamas do inferno ou o branco puro do céu; e a julgar pelas paredes do hospital, Emily tinha a impressão de que qualquer um que conhecesse aquele lugar iria preferir o vermelho das chamas.
Stephen abriu os olhos devagar. Emily ainda não havia se mexido.
Sua aparência era... Bem, o que se pode dizer sobre a aparência de uma pessoa prestes a morrer? Digamos apenas que não era nada boa.
Ele finalmente abriu os olhos, ainda meio sonolento.
Era tão reconfortante ver aqueles olhos verdes e calmos, iguais aos dela, mas com uma marca que ela reconhecia como sabedoria.
Emily viu as ondas aumentarem no monitor cardíaco quando ele a viu, mas ele sorriu e os batimentos voltaram ao normal.
Emily continuou parada por uns segundos e finalmente ele quebrou o silêncio.
- Você veio. – Ele disse, com a voz rouca, mas ainda assim reconfortante.
- Você realmente achou que eu não viria? – ela sorriu um pouco de lado, engolindo o choro.
- Eu tinha esperanças.
- Como se sente?
- Não é uma boa pergunta. – Ele sorriu; e ela também.
- Eu sei, só não sei o que dizer.
- Imagine que é uma tarde comum na garagem. Você pode até me dar meus remédio, se quiser. – ele disse, apontando um pequeno copo de plástico com alguns remédios coloridos aos pés da cama.
Ela sorriu e se aproximou, pegando o copinho e colocando nas mãos dele.
- Sabe o que isso me lembra - toda essa situação?
- Sei. – Ele baixou o olhar, fitando os remédios. – Desculpe por isso, aliás. Eu devia ter deixado você ir. Agora eu sei que ela gostaria.
Quando a madrinha de Emily morrera, Stephen disse que Emily não gostaria de vê-la assim. E que nem ela gostaria que Emily a visse assim. Isso ficara na cabeça de Emily. Até hoje ela tinha como verdade. Era frustrante saber que poderiam ter tido uma última conversa.
- Sim, você devia.
- Aprecio isso em você. Poder ser sincera mesmo quando estou morrendo.
- Isso é sarcasmo?
- Não, eu realmente aprecio. – ele sorriu e tomou os remédios.
- Então eles estão lhe medicando agora? O que eles descobriram? – Um pequeno broto de esperança nasceu no peito de Emily, deixando o hospital um pouco mais reconfortante.
- Nada. Eles estão tratando para todas as bactérias possíveis segundo meus sintomas. Uma terá de dar certo.
O broto murchou e o hospital voltou a cheirar a morte.
- Tantos remédios juntos não podem dar efeitos colaterais?
Stephen encolheu os ombros.
- Eu não sou médico.
 A porta se abriu e uma enfermeira entrou.
- Você devia estar descansando, Sr. Winter. Ninguém lhe avisou que as visitas são só de manhã, mocinha? Só duas pessoas podem ficar aqui por tempo integral.
- Na verdade, ninguém me avisou. – Disse Emily à enfermeira e então murmurou: - Eu volto. – e sorriu.
A enfermeira injetou alguma coisa no tubo que levava a corrente sanguínea, contou até três e então os olhos de Stephen fecharam-se.

- Obrigada por me fazer ir até lá. – Repetiu Emily. Elas estavam no carro de Leslie, agora. Emily perdera as contas de quantas vezes havia agradecido.
- Eu sei, eu sei. – Disse Leslie sorrindo. – Você já disse isso.
- Sério, não sei o que faria sem você.
- Você não faria. Não faria nada.
Emily sorriu. Leslie era a única que conseguia fazê-la sorrir, mesmo nos piores momentos. A única que a colocava para cima. Certa vez ela até conseguiu fazê-la dançar.
Leslie ligou o rádio e sintonizou em uma rádio qualquer. Quando reconheceu a música, se pôs a cantar:
- You may say I’m a dreamer, but I’m not the only one*. – Cantou Leslie. – Vamos, cante, eu sei que você sabe.
* Tradução: Você pode dizer que eu sou um sonhador, mas não sou o único.

- I hope someday you’ll join us and the world will live as one**. – Emily se juntou a ela.
** Tradução: Eu tenho esperanças que um dia você se junte a nós e o mundo será como um só.

Esta era uma característica amável de Leslie. Ela sempre tentava lhe deixar feliz, mesmo nos momentos ruins. Ela sempre tentava lhe mostrar que a vida continua. “Viva e deixe morrer”, era seu lema. Era a pessoa mais feliz que Emily conhecia. Sorrir é uma coisa. Agora sorrir a toda hora é outra. Não que ela não soubesse quando parar, ela sabia. E era isso que a realçava. Ela ficava triste. Mas então ela falava algo como “viva e deixe morrer” e seguia em frente. Emily não sabia o que ela fazia com a tristeza, mas depois de um tempo ela já não estava mais lá. Talvez ela guardasse pra ela, mas não deixava transparecer nem um pouco, o que deixava Emily curiosa. Como algumas pessoas podem sofrer tanto e outras terem uma vida tão perfeita?, perguntava-se Emily com freqüência.
“A vida não é justa. Nunca te disseram isso, não?”, respondia a parte pessimista de seu cérebro.
- Imagine no possessions, I wonder if you can. No need for greed or hunger, a brotherhood of man. Imagine all the people sharing all the world***. – Elas continuaram.
*** Tradução: Imagine não existir posses, me pergunto se você consegue. Sem necessidade de ganância ou fome, uma irmandade de homens. Imagine todas as pessoas compartilhando todo o mundo.

Jonh Lennon era mesmo um sonhador. Não sabia o que estava falando. Ou talvez soubesse, por isso usou a palavra imagine. Estamos cada vez mais longe de um mundo perfeito como Jonh Lennon previu há 36 anos.
Quando Leslie parou o carro em frente à casa de Emily, a primeira coisa em que Emily pôs os olhos foi em uma Harley brilhante e preta na entrada de carros. Uma coisa que Emily não notara na noite do cinema, talvez pela chuva e escuridão da noite. Talvez Emily apenas estivesse distraída. Talvez a moto estivesse dentro da garagem. Ou talvez – um talvez que Emily queria ignorar – Chuck tivesse esse efeito sobre ela. Emily não sabia por que, sinceramente, nem havia olhado em direção a garagem; o que não era típico de Emily, já que a primeira coisa que ela verificava quando chegava em casa era se a Harley estava parada na entrada de carros, como um demônio que a esperava paciente e despreocupadamente.
Damon morava com sua esposa a uns poucos – poucos até demais, na visão de Emily – quilômetros da casa de Anne e Emily. Eles vinham para uma visita rápida com frequência, mas às vezes, como ontem, a visita se estendia e Damon dormia lá, no quarto de hospedes. Normalmente isto acontecia quando Damon e Ketlin –sua esposa – brigavam.
- Ah, droga. – Murmurou Emily, ao ver a moto.
Leslie desligou o carro, seguiu o olhar se Emily e logo entendeu a frase.
- Por que você não gosta de Damon? – perguntou Leslie, que, como podem notar, não sabia do segredo de Emily – assim como todos.
- Eu o chamo de Demon*. – disse Emily, fugindo do assunto.
* Demon significa demônio em inglês.
Emily desceu do carro, esperando que Leslie não perguntasse de novo, mas, é claro, ela perguntou:
- Sério, por que você o odeia? Quero dizer, antes vocês eram tão ligados e de repente... – Leslie comentou, com sua maldita memória fotográfica.
Sim, você pode não acreditar, mas Emily e Damon já foram amigos depois de tudo isso.
Emily sofreu de Síndrome de Estocolmo depois do estupro. E então, quando tinha treze anos, ela realmente percebeu o quão ruim e monstruoso era tudo aquilo. Livrando-se da síndrome, ela passou a odiá-lo com todas suas forças e de todo seu coração e mente. Talvez o ódio ofuscasse seus sentimentos a ponto de não poder sentir qualquer outro sentimento tão forte quanto.
- Ele roubar minhas coisas já não é o suficiente?
Emily havia inventado um motivo, na falta de um que pudesse contar. Damon roubava suas coisas. Não de verdade – ele apenas roubou de sua mãe uma vez, que ela saiba -, mas Emily quase podia acreditar nisso. Contara essa mentira sua vida inteira que era como uma velha amiga.
Leslie calou-se quando viu a expressão da amiga. Leslie via esta expressão em seu rosto sempre que o “assunto Damon” era discutido. Era uma expressão de ódio. Não um ódio comum de irmãos. Era um ódio de verdade. Leslie imaginava que era assim que um judeu devia olhar para Hitler, embora balançasse a cabeça depois de tal pensamento, dizendo a si mesma que estava imaginando coisas.
Sempre imaginara que havia mais do que roubos nessa história. Nunca investigara, pois, se Emily não contara, era porquê ela não queria. Seria invasão de privacidade. Ou ela apenas não contara porquê não havia o que contar e Leslie estava apenas imaginando, como sempre.